sexta-feira, 16 de junho de 2023

O Dao e a minha caminhada alquímica Post 12 - Praticar não chega!

 Há muito que não escrevia nada. Não porque tenha desistido do projecto ou abandonado a prática mas sim porque a "prática" é "monótona".

Monótona???



Sim, na medida em que no mundo actual que vive também do consumo de informação, a prática interna é repetitiva, vive da disciplina e resiliência e não tanto da novidade constante. 


É também verdade que nestes últimos largos meses, para além de desafios profissionais, tenho combatido contra o sedentarismo e, SOBRETUDO, o vaguear da mente. E é sobre isto que gostaria de falar um pouco hoje. 


Qualquer prática, seja ela qual for, requer muita repetição, para que possa ser profundamente entendida e executada. Não é diferente nas práticas internas, diria mesmo que neste tipo de práticas é uma verdade impossível de contornar. 


Mas e se praticar não for suficiente???

Como o Sifu Adam Mizner diz; "a prática interna ocorre no interior"....

Ora quando quando praticamos Taiji, Meditação, Qi Gong... a prática é interna, certo? Para que a prática seja interna é FUNDAMENTAL que a mente esteja enraizada no corpo!!!

Aqui reside a chave que se insere na ignição! 

Se a prática for feita de forma ritualística, esta não terá resultados internos, apenas pequenas flores que qualquer prática externa pode também dar. 

Isto porque toda a prática requer a espansão da consciência e essa não no exterior de nós mas no interior!!! Porque antes de mais se há maior realidade que podemos conceber é a nossa existência, somos nós! Por isso não devemos colocar a nossa atenção no exterior, no céu, na estrela polar, no trabalho, nos pássaros, etc mas sim em nós!!! Mas este é um desafio complexo porque a mente não está habituada a ficar quieta. A mente está habituada a viajar de tema em tema, de estímulo em estímulo e sobretudo tudo externo a nós, porque o que reside em nós é.... Monótono!


Aqui encontra-se uma barreira enorme onde creio que muitos se deixam ficar. Isto porque pode demorar muito tempo, anos, até que consigamos sossegar a mente e dar poder à atenção. E mesmo quando, aparentemente, o estado de atenção começa a comandar a mente e esta a sossegar, nada está garantido (falo por experiência). Muito facilmente tudo volta para trás. 

Se há coisa que aprendi nestes últimos anos é que nada se conquista! Tudo resulta de um trabalho continuado e os estados que se atingem podem ser perdidos se a prática parar. 

Por isso digo, a prática é sagrada porque é ela que nos permite ir caminhando e transformando. A prática terá uma importância tão grande no início como no fim será ela que irá garantir o nosso crescimento. 

Mais tão importante como a prática é também o nosso estado de atenção. Podemos passar anos a praticar 1 ou 2 horas por dia, se não houver foco não esperem crescimento interno. A prática deve ser feita integralmente, quero dizer corpo e mente. Se o corpo trabalha a mente também e neste caso mantendo o foco total no exercício e em todo o seu propósito. Isto pode parecer fácil mas à medida que o tempo passa os desafios aumentam. Isto tudo na monotonia! Porquê? Porque os exercícios são os mesmos, os movimentos iguais, o foco igual... UMA SECA!!!

E esse é o maior desafio, ser capaz de manter o mesmo foco em algo que fazemos pela primeira vez, como na milionésima... 

Por isso, praticar SIM mas com a cabeça no sítio 

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A arte de viver sem esforço - O documentário

 


Interessante documentário sobre o Dao e como aplicá-lo na nossa vida

Diferenças entre as ideias Daoistas e Confucionistas

As religiões e a prática interna

Realização

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O Dao e a minha caminhada alquímica Post 11 - A importância da Contemplação

 Para quem, como eu, decide partir esta caminhada espiritual, há ferramentas que temos sempre de levar connosco. Como o alpinista leva casaco, gorro, luvas e todas as ferramentas de que necessita, também nós precisamos de ferramentas para esta árdua caminhada.

O caminho espiritual está cheio de espinhos e obstáculos, é inteligente estarmos bem preparados para o que aí vem.

Contemplação

A contemplação sempre foi uma forma de ajudar o caminhante espiritual. Uma forma de levantar o ânimo, de manter as forças, o alento. A contemplação pode começar por ser uma ferramenta motivacional, mas creio que tem capacidade para ser muito mais do que isso.

Podemos aprender a contemplar a paisagem, a comida, a casa, etc. Mas à medida que fazemos este exercício encontramos mais situação que requerem a nossa contemplação. Na realidade parece não haver fim ao sem número de "coisas" que podemos contemplar. Isto acontece porque a contemplação anda de mãos dadas com a consciência. Acredito na realidade que a prática contemplativa é uma janela da consciência, que nos permite estar mais "acordados" perante a realidade que vivenciamos.



Por isso a contemplação é, em meu entender, não só uma ferramenta útil, como indispensável para o caminhante espiritual pois ela permite uma aproximação ao Shen-espírito

Podemos contemplar todo o mundo ilusório que vivemos, mas podemos contemplar a nossa existência. O conjunto de milagres que têm de suceder a cada segundo para podermos vivenciar esta experiência. As trocas gasosas (oxigénio), as trocas químicas (neuronais), os impulsos elétricos (batimento cardíaco, função motora)... Todas estas funções a trabalhar incessantemente para que possamos estar disponíveis para vivenciar este mundo, sendo que tudo o que queremos é libertarmo-nos dele e regressar à origem.

Contemplar tudo isto é presenciar a magia deste mundo complexo e é incluir a ilusão na verdade, mas efectivamente verdade e ilusão provêm da mesma fonte. A contemplação une e por isso permite a transcendência da dualidade.

A contemplação é por si só uma prática muito poderosa que deve ser tida em consideração e praticada com devoção

segunda-feira, 28 de março de 2022

Zhu Yuan Zhang

Falar de Zhu Yuanzhang é falar da queda do Império mongol e do início da dinastia Ming (1368-1644).


A fome as pragas e as revoltas populares foram tomando lugar por todo o território. A resistência aumentou até que, um líder surgiu para comandar as tropas contra o Império Mongol. Zhu Yuanzhang liderou as tropas que derrotaram o Império Mongol, obrigado-os a recuar até às estepes da euroásia (Actual Mongólia, Xinjiang, Sibéria, Hungria, Kazaquistão, Rússia ocidental, Ucrânia, Moldávia, Roménia e Bulgária).

Após vencer a batalha, reclamou o mandato celestial tomando como base a capital de Yuan, actual Nanjing. Foi o primeiro camponês a tornar-se Imperador, iniciou a dinastia Da Ming ("Grande Brilho), que ficou conhecida como a Dinastia Ming.

Zhu Yuan nasceu em Fangyang (província de Anhui) e era filho de camponeses. Aos 16 anos e após uma época de grande seca, perdeu toda a sua família. Após a morte da sua família acabou por tornar-s monge budista no templo de Huangjue. Apesar disto, acabou por ter de deixar o templo, aparentemente por falta de meios. Tornou-se um pedinte vagueando pela região. Após 3 anos regressou ao templo onde ficou durante 24 anos. Aqui aprendeu a ler e a escrever. 
Acredita-se que a destruição do seu templo pelas mãos dos mongóis terá iniciado a sua revolta que levaria ao fim dos próprios mongóis.

Deste início humilde veio a nascer uma dinastia que governou através de 17 Imperadores num período superior a 276 anos.

Ao tornar-se Imperador Zhu Yuanzhang ficou conhecido como o Imperador Hongwu, tendo governado durante 30 anos (desde 1368 até 1398).

O Imperador Hongwu ficou na história por ter derrotado os Mongóis, forças invasoras, por ter respeitado as minorias e as diferentes religiões. Ele promoveu inclusive a renovação e construção de diversos mosteiros em Xi'an e Nanjing.

O Imperador Hongwu foi responsável por reformas nunca antes vistas como a anulação do cargo de Chanceler, a diminuição de poder dos Eunucos, tendo adotado medidas fortes para combater a corrupção. Formou ainda a policia Imperial secreta, que veio a ficar na História da China como uma das melhores forças secretas.

Promoveu a agricultura e a expansão dos terrenos usados, ajudou o povo baixando os impostos e criando leis para protecção de propriedade.

O Imperador Hongwu fica na história como um dos maiores imperadores da China.


Ver mais (EN)

domingo, 27 de março de 2022

A luz espiritual

A luz espiritual é a realização do interno. Quando as pessoas alcançam o interno, os seus órgãos internos ficam calmos, os seus pensamentos em equilíbrio, o olhos e ouvidos desimpedidos, e os seus sinus e ossos ficam fortes. Eles tornam-se poderosos mas não polémicos, firmos e fortes mais nunca exaustos. Não são excessivos em nada, nem tão pouco inadequados em nada.

                                                                     Wentzu

segunda-feira, 21 de março de 2022

O Dao e a minha caminhada alquímica Post10 - As flores que brotam no caminho

 A prática interna é, em grande parte invisível e para muitos, completamente imperceptível. Essa é só mais um dos desafios desta caminhada solitária, a incapacidade do outro em nos compreender, pois acha que nada estamos a fazer embora observe todos os esforços nessa tentativa. A verdade é que o caminho interno é um caminho extremamente produtivo e transformador. Essa transformação é objectiva, pois cada um de nós, que se desafia nessa caminhada, sente em si o poder dessa transformação. 

"Um grão de areia é um grão de areia, existe. Nem por isso chama a atenção de alguém"

Nas transformações que vão acontecendo ao longo da nossa vida, algumas são perceptíveis aos olhos dos olhos, mas a maioria é apenas percebida por nós. É também por isso que, aos olhos externos, podemos desenvolver um certo fundamentalismo, pois as pessoas não conseguem entender racionalmente o porquê de estarmos vinculados a determinados princípios, práticas aos quais não atribuem especial valor

Hoje queria partilhar algumas das diversas flores que vão surgindo nesta longa caminhada que também decidi fazer.

Há já uns anos que fui despertando em mim uma certa sensibilidade interna, consciência maior do que se passa "cá dentro". Ainda sem conhecer bem esses mistérios, por vezes é me possível ajudar o corpo nas suas tarefas diárias e por vezes extenuantes.

Há uns dias fiquei com uma dor no joelho direito. Era uma dor interna e medial que me incomodava ao andar e em qualquer movimento que a perna fizesse. Tive um dia cansativo e quando me fui deitar a dor continuou presente...

Foi então aí que decidi colaborar com o meu corpo. Experiências anteriores motivam-me, nestas situações, a procurar um estado de relaxamento físico em que o corpo parece quase desapegar-se do corpo energético. Uma vez chegado a este estado, coloco a minha atenção na região que me incomoda.

Desta vez, para minha surpresa, não senti qualquer alteração imediata o que me fez pensar que nada conseguiria fazer...

Acabei por adormecer neste estado.

Na manhã seguinte, quando acordei a dor não estava lá! Voltei a senti-la mais tarde, já de pé mas com uma intensidade completamente diferente, e como já em modo "cicatrização".


Para alguns que possam ler este artigo, isto pode ser coincidência, fruto da minha cabeça, ou outra coisa qualquer. Mas para mim, que já tive outras situações semelhantes, trata-se de uma flôr atribuida por anos e anos de árduo trabalho que me permitiram aprender a colaborar com o corpo e a tirar melhor proveito dele. Estas pequenas flores que vamos colhendo aqui e ali, dizem-nos objectivamente que devemos continuar o caminho, que é por aqui. 

Fica aqui a partilha de um momento simples mas que às vezes nos leva a ter mais certezas ;)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Dao e a minha caminhada alquímica - post 09 - A resiliência

Há quase 20 anos que tenho contacto com o Daoismo, há cerca de 18 que fui introduzido ao Qi gong e há cerca de 15 que comecei timidamente as minhas práticas internas ou assim pensava eu...

Toda e qualquer prática que leve a um profundo entendimento quiçá mestria, necessita de muita insistência, persistência e resiliência.



Ao longo de todos estes anos essa tem sido a minha verdadeira batalha. Adquirir e manter a motivação necessária para uma prática regular, pois apenas desta forma é possível evoluir verdadeiramente

Nos primeiros anos tinha a ilusão que o importante era aprender muitas coisas, tomar contacto com estilos diferentes, professores diferentes. É certo que isso tem a sua importância mas talvez não aquela que acharia em primeira instância. Não é a diversidade que nos dá a profundidade, essa encontra-se na prática incessante de algo muito concreto. O que a diversidade acaba por nos mostrar é que ela é apenas e só isso, diversidade. E que com ela a única coisa que podemos esperar é superficialidade... Sim, por isso isso hoje se segue muito o princípio da especialização, pois dessa forma podemos-nos dedicar a algo de concreto e assim aprofundar o nosso entendimento. Claro que esta conclusão já requer um entendimento que em muito é importante na nossa caminhada, pois retira-nos desde logo uma parte da ilusão permitindo assim que o caminho se torne menos sinuoso e mais directo para alcançarmos o nosso objectivo.



Há cerca de 8 anos comecei a fazer essa preparação, a de identificar exactamente o que pretendo e estudar afincadamente o que decidi seguir. Essa decisão mostrou-se revolucionária no sentido em que me permitiu ter mais foco na minha vida, em todos os seus domínios. 
A partir do momento que tomei essa decisão, comecei a estudar mais o que já sabia (ou que julgava saber) e procurando um estilo completo que eu pudesse levar comigo por muitos anos. Isso manifestou-se também na minha prática clínica de Medicina Chinesa e na minha vida pessoal. 

Enquanto que o olhar externo veja eu estar a fechar-me e a ficar circunscrito a poucas coisas, o que eu constato é a evolução e crescimento, agora, de forma real. É dificil pôr isto em palavras, mas é muito diferente obter informação e até mesmo conhecimento, de obter entendimento. Na minha maneira de observar e sentir, é no entendimento que se dá um passo substancial no nosso crescimento, é quando o conhecimento se torna parte de nós e nós parte dele.

Vamos supor que construimos uma casa. Vamos precisar de cimento, tijolos, janelas, telhas, pavimento, etc, etc. Todos estes materiais são o conhecimento. Nós, somos o terreno onde esses materiais são depositados. À medida que os materiais vão sendo aplicados, com o tempo, a casa vai ganhando forma e vai-se fundindo com a terra também. Quando concluimos a construção da casa, temos um elemento, já não há mais o tijolo ou a janela; a telha ou o cimento, temos a Casa. Também não vemos a casa como implantada no terreno mas sim integrada no terreno. É assim que vejo o entendimento, quando o conhecimento já não é um material que se pode discriminar, mas sim é parte integrante de nós. A manifestação desse entendimento é muitas vezes feita sob a forma tranquila pois a convicção elimina o medo, sem medo não há insegurança, sem insegurança não há ansiedade, sem ansiedade não há lugar à exacerbação emocional.

Mas este texto é sobre resiliência e é sobre resiliência porque sermos capazes de nos "fecharmos" numa tarefa, quando o mundo nos convida diariamente para a diversificação/dispersão requer essa qualidade. Neste caso em concreto via requerer também que aceitemos abdicar de outras vivências e experiencias em prol do que achamos melhor para nós.

Com resiliência vamos conseguir aprofundar o nosso entendimento e descobrir que menos pode ser mais e que mais pode ser menos. Vamos aprender muitas coisas sobre a vida que não nos são ensinadas e desenvolver certezas que só nós podemos descobrir.

A caminhada é longa e todos terão de percorrer a sua. Mas certamente que todos nós ficaremos a ganhar se desenvolvermos esta qualidade