O meu primeiro contacto com a prática interna foi em 2002 quando comecei a estudar chinesa. Na altura tive dois professores marcantes. Enquanto que um me ensinou as bases da medicina chinesa transportando no processo toda a riqueza filosófica desta ciência, o outro me aprofundou o trabalho alquímico através do Qi Gong.
Na altura era tudo muito estranho/mágico para mim e pouco pude beber de tanto conhecimento que me foi passado.
Começo o post desta forma por uma razão. As pessoas com as quais tenho contactado têm a noção que a prática interna promove uma melhoria gradual e evidente em quem o pratica. Eu quero dizer não! Não é bem assim…
Sim a prática interna tem o propósito de nos elevar, transformar na direcção do Homem superior ou verdadeiro 真人 (Zhen Ren).
Mas embora esse seja o propósito isso não quer dizer que o caminho será cada vez melhor e mais florido. Na realidade a caminhada está recheada de desafios.
Quero falar disto porque são muitas as pessoas que desistem ao primeiro obstáculo. São muitas as pessoas que duvidam e que põem em causa o método pois acham que se possuem uma prática interna ele deve servir para se sentir melhor e nunca pior. Pois, mas não!
A prática interna não serve os interesses do ego. É um método que nos eleva, dispersando as impurezas e criando condições para que o corpo se transforme
Na realidade todo o praticante que se entrega e que é sincero, vai sofrer. E o processo de sofrimento ocorre pela resistência que nós próprios oferecemos no acto de nos libertarmos de algo. Este sofrimento vai desde situações físicas como emocionais e mentais.
É muito comum e por isso muito provável que aconteça em certa medida a todos os praticantes.
Mas então sofrer é sinal de pratica interna? Não!
Obviamente que esta não pode ser uma forma de validar a nossa prática, até porque é muito possível que se ela for errada nos provoque sofrimento mas destrutivo…
O que nos deve guiar é o método. É fundamental ter um método bem definido e um mestre a quem possamos recorrer.
Mas é muito importante estar preparado para o sofrimento pois este estará certamente presente na caminhada de cada um.
Nos meus anos de prática têm-me surgido diversas coisas, algumas muito complexas e que me levaram a duvidar da minha prática, mas a persistência e o tempo foram-me provando que eram apenas consequências da transformação do corpo.
Hoje, olhando para trás e para o que aí virá, vejo como inevitável o sofrimento. Na realidade quando nos queremos "libertar" temos de entender que isso exige um esforço, esse esforço traduz-se sob a forma de sofrimento. Mas quando a libertação ocorre o estado alcançado justifica todo o esforço.
O caminho não é fácil, mas sem dificuldade o objectivo é inalcançável