Há quase 20 anos que tenho contacto com o Daoismo, há cerca de 18 que fui introduzido ao Qi gong e há cerca de 15 que comecei timidamente as minhas práticas internas ou assim pensava eu...
Toda e qualquer prática que leve a um profundo entendimento quiçá mestria, necessita de muita insistência, persistência e resiliência.
Ao longo de todos estes anos essa tem sido a minha verdadeira batalha. Adquirir e manter a motivação necessária para uma prática regular, pois apenas desta forma é possível evoluir verdadeiramente
Nos primeiros anos tinha a ilusão que o importante era aprender muitas coisas, tomar contacto com estilos diferentes, professores diferentes. É certo que isso tem a sua importância mas talvez não aquela que acharia em primeira instância. Não é a diversidade que nos dá a profundidade, essa encontra-se na prática incessante de algo muito concreto. O que a diversidade acaba por nos mostrar é que ela é apenas e só isso, diversidade. E que com ela a única coisa que podemos esperar é superficialidade... Sim, por isso isso hoje se segue muito o princípio da especialização, pois dessa forma podemos-nos dedicar a algo de concreto e assim aprofundar o nosso entendimento. Claro que esta conclusão já requer um entendimento que em muito é importante na nossa caminhada, pois retira-nos desde logo uma parte da ilusão permitindo assim que o caminho se torne menos sinuoso e mais directo para alcançarmos o nosso objectivo.
Há cerca de 8 anos comecei a fazer essa preparação, a de identificar exactamente o que pretendo e estudar afincadamente o que decidi seguir. Essa decisão mostrou-se revolucionária no sentido em que me permitiu ter mais foco na minha vida, em todos os seus domínios.
A partir do momento que tomei essa decisão, comecei a estudar mais o que já sabia (ou que julgava saber) e procurando um estilo completo que eu pudesse levar comigo por muitos anos. Isso manifestou-se também na minha prática clínica de Medicina Chinesa e na minha vida pessoal.
Enquanto que o olhar externo veja eu estar a fechar-me e a ficar circunscrito a poucas coisas, o que eu constato é a evolução e crescimento, agora, de forma real. É dificil pôr isto em palavras, mas é muito diferente obter informação e até mesmo conhecimento, de obter entendimento. Na minha maneira de observar e sentir, é no entendimento que se dá um passo substancial no nosso crescimento, é quando o conhecimento se torna parte de nós e nós parte dele.
Vamos supor que construimos uma casa. Vamos precisar de cimento, tijolos, janelas, telhas, pavimento, etc, etc. Todos estes materiais são o conhecimento. Nós, somos o terreno onde esses materiais são depositados. À medida que os materiais vão sendo aplicados, com o tempo, a casa vai ganhando forma e vai-se fundindo com a terra também. Quando concluimos a construção da casa, temos um elemento, já não há mais o tijolo ou a janela; a telha ou o cimento, temos a Casa. Também não vemos a casa como implantada no terreno mas sim integrada no terreno. É assim que vejo o entendimento, quando o conhecimento já não é um material que se pode discriminar, mas sim é parte integrante de nós. A manifestação desse entendimento é muitas vezes feita sob a forma tranquila pois a convicção elimina o medo, sem medo não há insegurança, sem insegurança não há ansiedade, sem ansiedade não há lugar à exacerbação emocional.
Mas este texto é sobre resiliência e é sobre resiliência porque sermos capazes de nos "fecharmos" numa tarefa, quando o mundo nos convida diariamente para a diversificação/dispersão requer essa qualidade. Neste caso em concreto via requerer também que aceitemos abdicar de outras vivências e experiencias em prol do que achamos melhor para nós.
Com resiliência vamos conseguir aprofundar o nosso entendimento e descobrir que menos pode ser mais e que mais pode ser menos. Vamos aprender muitas coisas sobre a vida que não nos são ensinadas e desenvolver certezas que só nós podemos descobrir.
A caminhada é longa e todos terão de percorrer a sua. Mas certamente que todos nós ficaremos a ganhar se desenvolvermos esta qualidade
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