Viver o Dao no mundo moderno não aparenta ser simples.
Vivemos numa sociedade competitiva, exigente e cruel, em que não
há espaço para descansar, não há perdão para o insucesso nem capacidade para
reabilitar alguém que se perdeu.
A sociedade ocidental moderna, em plena expansão no resto do
mundo, tem no entando qualidades extraordinárias. O conhecimento
científico hoje salva milhões de pessoas, tanto ricas como pobres; hoje a
educação é global, o acesso à informação é também ele muito simples, o cidadão
tem hoje maior liberdade do que aquela que vivia há algumas décadas atrás...
Será possível aplicar os princípios filosóficos do Dao na vida
contemporânea?
Em 2002 tive o meu primeiro contacto com a filosofia Daoista
(taoista). Através da Medicina Tradicional Chinesa, tive desde logo uma ligação
muito forte ao Daoismo.
Na cultura chinesa o Daoismo respira em tudo; na escrita, na
arquitectura, na alimentação, na medicina, e em muitas outras coisas. Quero com
isto dizer que na sociedade chinesa não há separação entre teoria e
prática.
Tive o meu primeiro contacto com a China em 2006, e embora tenha
encontrado uma sociedade profundamente industrializada e fascinada com o
ocidente (e tudo o que este tem de mau), encontrei uma atitude perante a vida
muito peculiar. Aí vi, pela primeira vez, que é possível viver o Dao no mundo
moderno. Mais tarde em 2012, após visita o mestre Daoista Huang Shi Zheng em
Xi'an, tive a prova inequívoca que o verdadeiro Dao é vivenciado e não falado.
Tive o previlégio de conviver diariamente com o mestre durante algumas
semanas.
Através da observação e da percepção constatei que o mestre vivia
em profunda harmonia com o meio envolvente, mesmo que este fosse muito exigente
e potencialmente stressante. Devo dizer que o mestre Huang Shi Zheng, é muito
conceituado na China e é por isso, muito requisitado por todo o país. Passa por
isso a vida a viajar de um lado para o outro, em reuniões governamentais e
regionais; a presenciar inauguração de templos, enfim tem uma vida recheada de
actividades. Tem uma vida que muitos acham, com muito stress.
Mas na verdade, o mestre reagia sempre com serenidade aos pedidos,
seguindo o curso que lhe era pedido, mostrava sempre um sorriso verdadeiro e
muitas vezes via-o a rir descontraidamente na conversa com outras pessoas,
muitas delas perfeitas desconhecidas (é de resto uma grande qualidade deste
povo, em que facilmente uma pessoa inicia uma conversa com um perfeito
desconhecido).
Num momento estávamos no templo, no outro estávamos no carro
prontos para 7 horas de viagem para uma distante cidade. A vida do mestre era
como a de um pássaro que passa o tempo a voar de um lado para o outro, no
entanto, o seu comportamento revelava uma quietude perfeita.
A partir deste momento não tive dúvidas, é possível vivenciar o
Dao em plena sociedade moderna!
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