terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Shanggu Tianzhen lun, o primeiro capítulo do Suwen





"Quando alguém está completamente livre de desejos, ambições e pensamentos que distraiam, indiferente à fama e ao lucro, a verdadeira energia daí irá desertar. Quando alguém concentra internamente o seu espírito e conserva uma mente em seu estado perfeito, como pode ocorrer qualquer doença?"







Este excerto fantástico resume o pensamento Daoista. Num capítulo bem mais vasto, estas duas frases conseguem sintetizar a visão holística do daoismo bem como a essência para atingirmos o homem superior.

Aqui o conceito de saúde não é apenas físico. É bem mais do que isso. A saúde é não só uma plenitude física, como também a liberdade das emoções que nos condicionam bem como dos pensamentos obsessivos que nos levam ao desvio.

"Quando alguém está completamente livre de desejos, ambições e pensamentos que distraiam, indiferente à fama e ao lucro, a verdadeira energia daí irá desertar..."

Uma mente livre de ocupações, não está dispersa. Uma mente livre de desejos e ambições não se esvai. Uma mente indirente aos estímulos exteriores concentra-se no interior e faz despertar o espírito. Faz despertar Zheng Qi, a energia autêntica ou verdadeira. É a representação da energia no seu estado puro e perfeito.

"Quando alguém concentra internamente o seu espírito..." 

Quando nos focamos em nós, quando a mente não se dispersa com o mundo exterior mas apenas está focada no presente e naquilo que somos...

"...e conserva uma mente em seu estado perfeito..."

Quando a mente está concentrada em apenas um pensamento e esse pensamento é a existência plena...

"...como pode ocorrer qualquer doença?"

Se respeitarmos todos estes princípios teremos uma saúde muito forte. Principalmente porque estaremos conscientes do que nos rodeia, tranquilos quando face às provações e resistentes às adversidades da natureza


domingo, 3 de dezembro de 2017

Podemos sair, mas devemos sempre regressar


Numa vida recheada de estímulos, desafios e de objectivos que nos consomem, algo não deve nunca desaparecer do nosso horizonte... a nossa casa.

Somos diariamente desafiados a sair, a explorar. Torna-se portanto um hábito, torna-se a nossa vida. Rápido nos habituamos a viver fora de casa e aí nos sentimos bem. Sentimo-nos vivos!

Queremos continuar nessa viagem ao desconhecido, queremos viajar, conhecer experienciar...

Mas durante essa caminhada, vivência a nossa casa afasta-se de nós. A nossa casa é a nossa raíz, a nossa origem, o que na realidade somos! E um dia quando já não quisermos conhecer mais, podemos já não ver a casa. Podemos já não conhecer o caminho de volta e pior; podemos-nos mesmo esquecer que algum dia tivemos casa!!!

O processo de esclarecimento é individual, ninguém poderá dizer qual o melhor caminho para alguém, pois na realidade ninguém o conhece. Apenas sabemos, que com serenidade podemos escutar o eco do misterioso que nos conduz ao nosso destino. Esse sim é o caminho correcto, caminho esse que apenas pode ser descoberto por nós.

O que pretendo, é alertar para a dispersão destrutiva. A dispersão é um movimento natural da vida. Os fluxos de movimento aparentemente opostos, são aqueles que geram, criam.
Portanto para que o completo se manifeste é necessária a concentração, mas também a dispersão. Dois movimentos interdependentes! Logo não podemos vivenciar apenas uma das duas coisas, precisamos de ambas para nos completar.

Mas o risco, quer num quer noutro, é o do esquecimento. Especialmente na dispersão pois é aquela que nos tenta diariamente. O esquecimento acontece, pois no estímulo exterior constante faz esquecer aquilo que raramente vivenciamos...

Um dia mais tarde, pode ser tarde demais... Um vazio surge na natureza do incompleto, o ser fica doente e a tristeza surge...

Devemos SEMPRE manter cuidado o caminho da nossa casa, podemos sair mas temos SEMPRE de regressar. Yin e yang devem sempre manifestar-se, apenas assim se nutrem e mantêm. 

Ao sair Vemos, mas é em casa que que Vivemos!

A cada inspiração o espírito pede para entrar, enquanto que em toda a expiração ele se liberta... Em TODO o pensamento o espirito dispersa e enfraquece, mas sempre que há quietude no coração ele rapidamente regressa. 

É fundamental entender que o esclarecimento não ocorre na dispersão como também não surge na concentração. O esclarecimento brota de um coração sereno que, atento e sem ambição, aguarda pelo tempo certo.

O ego tenta procurar fora o que apenas existe dentro. Mas como ele se sustenta nos sentidos, apenas percebe o que acontece no exterior, o que é ilusório. Então nunca poderemos obter o esclarecimento se nos deixarmos levar por ele,  apenas nos conduz ao engano e à desilusão.

É por isso necessário serenar o espirito pois é aí que podemos despertar o Sentido interno da percepção. Esta é superior à mente e não obedece ao ego.

A percepção dá-nos o estado real no nosso espírito.

A fé ajuda-nos a serenar o coração e a continuar este caminho interno alquímico.