quarta-feira, 30 de maio de 2018

Respiração, , enchendo o recipiente...

A respiração é, nas práticas alquímicas internas, determinante. Diria que a respiração é a pedra angular do desenvolvimento espiritual do praticante. Se por um lado é importante desenvolver uma estrutura apropriada para que a energia possa circular correctamente, por outro é fundamental a mente estar desperta em todo o processo. A respiração é o elo de ligação entre estes dois pólos.

Vivemos na materialidade, os nossos sentidos primários ligam-nos ao mundo ilusório, a mente dá-nos a consciência para a libertação. Pretendemos então caminhar da Terra para o Céu, mas para isso precisamos de um veiculo, esse veiculo é a respiração!

A respiração é muito estudada nas práticas orientais, em particular na prática Daoista. Através da respiração podemos absorver energia, armazena-la e fazê-la circular nas mais diversas partes do corpo.

Através da respiração podemos sublimar a energia, fortalecer o físico e elevar a consciência. Por isso a prática interna sem cuidar da respiração é uma prática esvaziada, inútil.

Então respirar basta?

Não! Respirar é um aspecto fundamental, pois é a respiração que liga o plano físico ao divino, mas é apenas um processo, sem o resto pouco acontece.
É certo que cuidar da respiração promove alterações evidentes, tanto no corpo físico como emocional e mental, mas para que o processo alquímico se aprofunde é necessário muito mais

Encher o recipiente

O Dantian inferior ou Xia Dantian pode ser, aqui considerado como o recipiente que desejamos encher de energia vital. E por isso a respiração é maioritariamente abdominal (área que corresponde ao Xia Dantian).
Mas para que possamos encher o recipiente não basta respirar, é necessário activar o processo. Para que tal suceda é fundamental usar a Mente-percepção para que possamos conduzir a energia para o Dantian.

No final concluimos sempre o mesmo, todos os processos são indispensáveis, cada um é particular e nenhum é independente do outro para que possamos atingir a libertação.

Acredito que quando nos dedicamos ao desenvolvimento da respiração, corpo e mente se amaciam e desenvolvem. Mais tarde a nossa consciência adquirida permite elevar o processo respiratório e o encontro com o relaxamento físico profundo liberta a circulação do Qi.
No entanto não existe um método correcto, existe sim aquele com o qual nos identificamos mais!

Boas práticas

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Ba Xian, o Templo dos 8 imortais

O Templo dos 8 imortais é um importante templo daoista situado na famosa cidade de Xi'an, antiga capital da dinastia Qin, a que reunificou a China pela primeira vez.

Foi Qin Shi Huang Di que ordenou ser construído um exército em terracota para o proteger quando partisse para o outro mundo. Hoje é um dos locais com maior turismo em toda China. Diz-se que ele viria a morrer envenenado devido às fórmulas alquímicas na sua busca obcessiva pela imortalidade.

Os 8 imortais são muito reverenciados no Daoismo o que confere também, grande importância religiosa a este templo.
Zhong li Quan, Lü Dong bin, ...., foram homens e mulheres que seguiram a via do Dao. Cada um, com o seu próprio caminho deixando o mundo para se entregar às maravilhas do Dao, atingindo então a imortalidade.

Este templo é uma homenagem a estes grandes homens e mulheres que alcaçaram o Dao. Os 8 imortais são a demonstração da capacidade espiritual do ser humano e das suas capacidades intrínsecas.


À entrada do tempo existe uma espécie de mercado com utensílios Daoistas (desde vestes, a instrumentos, estatuetas) mas também artigos comuns. Ao entrar neste templo sente-se desde logo a calma que contrasta com a agitação ao seu redor.

No interior do templo existem inúmeros edifícios, cada um dedicado a um famoso Daoista ( para além dos imortais), como é o caso de Sun Si Miao grande médico Chinês da dinastia Sui e Tang, entre outros.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Quando o medo se mascara e a preocupação ocupa lugar

A preocupação

Muitos dirão que a preocupação é fruto de um ser consciente e responsável. Que só um louco não se preocupa, pois o que seria da humanidade se o ser humano não se preocupasse com os outros…

Dirão também que é fundamental alguém se preocupar com o seu filho, os seus pais o seu companheiro, enfim todos aqueles de quem gostamos. A preocupação parece então estar ligada de forma estranha ao amor, isto porque as pessoas se preocupam com aqueles que gostam…

Alargando o tema da preocupação

 Mas a preocupação também surge no trabalho e, infelizmente, muitos são aqueles que não adoram o que fazer. Alguns até detestam… Então a preocupação não é sinónimo de amor, também pode decorrer noutras situações como o trabalho.

Podemos também ficar preocupados com algo que fizemos. Talvez não tivéssemos feito bem, talvez o que fizemos teve repercussões em alguém que nós não queríamos. Talvez o que fizemos no passado nos está a condicionar o presente e isso preocupa-nos…

E como a preocupação não conhece limite, podemos até ficar preocupados com o futuro, pois dele ninguém faz ideia o que vem… Mas às vezes, até por "sabermos" o que aí vem, ficamos preocupados

Antes de fazer uma reflexão sobre a preocupação, seria interessante estudar a palavra em si:

Preocupação: 
  • Estado de um espírito ocupado por uma ideia fixa a ponto de não prestar atenção a mais nada
  • Inquietação
  • Desassossego
  • Ocupação prévia
  • O primeiro a ocupar
  • Antecipar
De forma geral a preocupação assume um peso incomodativo no nosso espírito, pois preenche a nossa mente com algo impossibilitando vivenciar o momento. 

Ao impedir vivenciar o momento, a preocupação leva-nos para um estado de espírito em que vivenciamos a ilusão, mas porquê? Seja por antecipar um real acontecimento, ou por manter um pensamento sobre algo que corre por corrigir na nossa vida, essa ocupação mental nada traz de resolução.

Podemos contudo argumentar, que pelo pensamento permanente num tema, conseguimos muitas vezes resolver diversas situações nas nossas vidas, é certo. Isso acontece com a esmagadora maioria das pessoas. Quando há um "problema" ficamos a "meditar" (preocupados) nele e, algumas vezes encontramos a "solução". Para quem acha que esta é a via, este  texto não visa explorar este ponto que no meu entender tem a sua própria linha de raciocínio. 

O que posso dizer é que nós podemos resolver os desafios que a vida nos propõe das mais diversas formas. Umas serão melhores que outras, como em tudo na vida. No meu entender, a melhor forma de lidar com estes desafios é fazê-lo com a consciência no presente, em paz consigo mesmo aproveitando cada instante desta vida terrena que passa num ápice. Se a cada desafio que formos resolver, e são muitos os que aparecem na vida, perdermos a noção do momento; então estaremos a desperdiçar uma grande parte da vida. 

Usando a preocupação conseguimos vivenciar o presente de forma plena? Estou certo que não.

Então podemos lidar com o desafio em tempo real, não perdendo tempo em antecipa-lo, até porque muitas das vezes ele acaba por não se manifestar. Podemos também manter a serenidade e atenção máxima, fazendo uso de todas as nossas capacidades, para poder resolver o que nos surge. Geralmente a resolução é mais rápida, pacífica e menos desgastante, já para não falar do seu rácio de assertividade

A "conversa", trouxe-me até aqui, mas não era bem este o caminho que havia escolhido inicialmente. Surgiu-me que a preocupação pode ser apenas uma manifestação de algo mais profundo do nosso ser e não apenas uma característica nossa. 
A preocupação não deixa de ser um pensamento fixo sobre algo, uma pequena obcessão. 

O que nos leva a viver neste estado? Pois ninguém se sente genuinamente bem neste estado. Muitas pessoas se queixar que se preocupam com o tudo e com o nada mas não conseguem deixar de o fazer… Porquê? o que as impede?

O medo

Se confiarmos em nós e nas nossas capacidades, regra geral não seremos atacados pela preocupação
Se sentirmos uma confiança inabalável nos nossos amigos e familiares, estes não serão fonte do nosso medo
Se executarmos o nosso trabalho com dedicação e disciplina, o trabalho não será fonte de inquietação
Estando conscientes das nossas limitações e capacidades, não ficaremos desassossegados por acontecimentos passados nem inquietos em relação à indefinição do futuro

Creio, que para a preocupação nos abandonar, temos obrigatoriamente de observar o nosso medo, temos de o mandar para fora do barco, pois só assim a preocupação (e outras qualidades mentais) poderão extinguir-se. 

Mas para tal é importante dar o salto no abismo, e esse é difícil de fazer… Isto significa, temos de nos entregar ao mundo da indefinição, pois no que nos é exterior não conhecemos nada. A única realidade Somos Nós. é aí que deve residir a confiança, a entrega, a fé. 

Se vivermos sempre em função do que nos é exterior é como estarmos sempre a correr atrás de um cavalo, nunca o apanhamos… Mas se decidirmos viver em função do que somos, das nossas sensações, não apenas viveremos serenos e tranquilos, como muito provavelmente realizados
O medo