O clássico "Taoismo prático", do séc XXI é atribuído a Zang Ziyang. É também considerado, juntamente com a "Unidade Tripla", as principais fontes de alquimia interna conhecidas também como os tratados alquímicos dos ancestrais.
No capítulo: A Via da vida eterna através da percepção do espírito vital (Bases da alquimia: O absoluto, yin e yang, substância e função), Yi Zhenzi diz:
"O físico não pode produzir o físico; o que produz o físico não é físico, é a energia. O que produz a energia não é a energia, é a Via."
Ele diz também, "A miríade difere na forma física muda e não permanece. Mas a energia imutável desvanece, enquanto que a causa da imutabilidade permanece."
Embora a via da feitiçaria não vai para lá do yin e yang e dos 5 elementos, contudo yin e yang e os 5 elementos não podem subsistir sem o absoluto. O absoluto é a lei unificadora do yin e yang e dos 5 elementos. Se quizeres operar yin e yang e os 5 elementos no corpo, de maneira nenhuma deves colocar o esforço no yin e yang e os 5 elementos. Deves concentrar-te no absoluto, praticando estando não-nascido; então yin e yang e os 5 elementos irão operar espontaneamente e naturalmente sem ser necessário operar neles. Esta é uma verdade desconhecida que trás toda a matéria por chegar à sua essência. Se estás confuso sobre isso e trabalhas em operar yin e yang e os 5 elementos, bom, yin e yang e os 5 elementos não são coisas que possam ser operadas através do conhecimento humano ou técnica. O mínimo desvio na prática pode levar a centenas de acontecimentos bizarros; podes bem caminhar para a tua morte sem retorno, por fim incapaz de operar yin e yang e os 5 elementos.
Este texto deve ser guardado religiosamente por todos aqueles que procuram a transcendência, pois contém uma sabedoria invulgar e uma clareza não muitas vezes encontrada nos textos clássicos. Yi Zhenzi é muito claro ao afirmar que não devemos procurar controlar os acontecimentos internos mas sim levar o nosso foco para o absoluto, o Dao, pois apenas aí o que pretendemos poderá acontecer.
Deixo todas as interpretações a cada um de vocês pois nestas matérias, como noutras, é essa a riqueza!
Este blog propõe falar sobre Daoismo religioso e filosófico, ajudando a todos no caminho do Dao
sexta-feira, 12 de julho de 2019
terça-feira, 23 de abril de 2019
O Dao e a minha caminhada alquímica - Post 03 A disciplina
Disciplina - a palavra tabu
A prática interna ou Neigong (内功) é um conjunto de tudo e de nada, mas como o Mestre Adam Mizner simplifica, é o trabalho ou transformação que ocorre no interior.
Já abordei especificamente o conceito de Neigong anteriormente e por isso, o meu objectivo neste artigo é de falar da disciplina.
Todos nós queremos algo na vida, qualquer pessoa tem um objectivo na vida. Na realidade todos nós temos vários. Temos objectivos diários, temos objectivos não exigíveis (coisas que gostaríamos de alcançar mas que aceitamos não conseguir) e objectivos que orientam a nossa vida. Diria que os últimos são mais marcantes.
E quando alguém tem um objectivo só há uma forma de o conseguir, pelo menos se estar sujeito à fortuna, é trabalhando arduamente para o alcançar. Todos sabemos disso.
Na prática interna não é diferente. Se há aprendizagem a retirar da prática interna é a exigência que esta nos obriga para que a transformação seja real e consistente.
Bem sei que muitos consideram que a prática interna deve ser feita com um fundo de motivação (estou totalmente de acordo), mas o problema é então estabelecer o que é a motivação? Pois muitos praticam quando estão bem dispostos, quando estão com o "feeling", quando se encontram numa floresta mágica ou numa praia paradisíaca.
Para que fique bem clara a minha opinião, toda e qualquer prática é benéfica para o praticante. Praticar um dia e melhor que não praticar nenhum… Sem sombra de dúvidas
Mas será eficaz (para cumprirmos com o nosso objectivo pré-estabelecido, essa sim a verdadeira motivação) praticar de vez enquando quando "nos sentimos" dispostos ou motivados?
Creio que não. Em primeiro lugar porque essa aparente motivação é precisamente aquela da qual nos devemos libertar é uma faceta do desejo. Uns dias queremos outros não.
Algum pai se imagina uns dias estar com os seus filhos outros não?
alguém pondera uns dias trabalhar outros não?
Ora por princípio, essa postura não se apronta como mais correcta. Mas podemos ir ainda mais longe. Para que a prática interna seja realmente produtiva ela deve decorrer com consistência e continuidade. Estamos a contruir um corpo novo e para tal não podemos parar a obra e recomeçá-la noutro dia qualquer.
O que acontece a uma obra parada? os materiais começam a deteriorar-se e quando quisermos recomeçar, não recomeçamos do ponto em que paramos anteriormente pois temos de voltar a reabilitar o material estragado. Pois o nosso corpo é semelhante.
É por isso que a disciplina deve guiar aquele que encontrou a sua motivação e que definiu o seu método. Deve trabalhar arduamente na busca do seu objectivo não questionando pequenos ganhos ou perdas, simplesmente focado na sua prática. Na realidade a disciplina é parte do processo transformador.
E é precisamente disso que estou a falar e sobre a qual quero partilhar.
Nos últimos anos tenho combatido os desejos que me puxam para um lado e para o outro, que me mantêm na instabilidade. Tenho rumado no sentido da estabilidade da prática que é também a estabilidade da mente. A prática regular permite alcançar resultados a médio prazo mas garante, a curto prazo, um domínio sobre o desejo, a tentação e o sedentarismo. De uma forma mais geral, a disciplina descola do nosso corpo a fervura da emoção. A disciplina liberta-nos dessa escravidão e instabilidade.
Muitos dirão que a disciplina é sinal de obstinação, fanatismo. Mas não é o mesmo.
A disciplina é a capacidade de prosseguir com uma tarefa de forma regular e consistente e consciente
Poderão também argumentar o mais importante é praticar motivado mesmo que assim esta se torne irregular, ao contrário da pratica diária mesmo com períodos em que nos encontramos "contrariados". É verdade que se eu estiver num dia não, a prática desse dia sofrerá as devidas consequências mas existem ganhos inabaláveis. É que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura", já diz o ditado português. E quando o nosso corpo (mente) se habitua à prática, deixa de o questionar. Logo deixa de ser um obstáculo. Quando vamos para a nossa prática diária, a mente deixa se ser um inimigo e passa a posicionar-se de forma neutra permitindo assim a que esse momento frutifique.
A minha prática tem me mostrado que a disciplina é a chave para a transformação, a consistência da prática, a entrega e sinceridade como que a fazemos.
Mas aqui, é também importante não resumirmos a prática interna a uma postura física ou a um exercício particular. A prática diária pode ser executada de diversas formas embora seja recomendável a existência de um método como fio condutor.
Se analisarmos os princípios das diversas artes marciais veremos como a disciplina se apresenta como uma qualidade básica. Para quem já praticou artes marciais ou pratica, sabe do que falo. Mas também, como referi acima, podemos verificar a sua importância em qualquer outro aspecto da nossa vida que se mantenha a médio ou longo prazo. Em todas essas situações nós podemos verificar que aquele que é dotado de resiliência, sacrifício consegue levar "a água ao seu moinho".
terça-feira, 9 de abril de 2019
Estudo do termo Song
No treino de Taiji, bem como de Qigong é fundamental o corpo estar activo (Yang) mas relaxado (Yin).
Activo quer dizer que a mente deve conduzir o Qi, a respiração deve conduzi-lo e o corpo deve mover-se de acordo
Relaxado significa que o corpo não deve obstruir a circulação do Qi. O corpo físico deve estar solto, as articulações desbloqueadas, a respiração deve existir com fluidez, a mente deve estar atenta mas sem se prender a qualquer acontecimento interno como externo.
Yin e Yang devem estar em sintonia na prática interna.
Usualmente, dizemos que o praticante deve aprender a enraizar, a puxar o Qi para baixo, levando-o até à terra (enraizamento 根). Todos os que praticam Qi gong e Taiji já devem ter ouvido este termo inúmeras vezes. Faz menção de fazer descer o Qi, levar a nossa atenção à região inferior do corpo e à sua ligação com a Terra.
Há uns anos tomei contacto com o termo Song( 松 ) é muito usado no treino de Taiji.
Song quer dizer soltar, relaxar (palavra perigosa que não representa o objectivo na prática), largo
Antes de avançar é interessante estudar o caracter
Se o decompusermos encontramos:
Mu - 木 - madeira, árvore
Gong - 公 - justo, honorável, comum, justo
por sua vez Gong é composto, também ele, por dois caracteres
Ba - 八 - Número 8, todos os lados, de todo o lado
Si - 厶 - Privado
Podemos ainda fazer outro exercício interessante e comparar Song (松) com Gen (根)
Se os observarmos entendemos que possuem o mesmo radical, Mu (木). O radical é o que dá o sentido ao caracter. Então ambos se ligam, se dizem respeito. Mas são diferentes
Gen (根) possui também gen-艮, que neste caso confere a fonética. Pois Gen, traduzido como enraizamento, trás o seu simbolo de Mu (木). A árvore, sólida e estável que se envolver com a terra.
Voltando ao termo Song entendemos que é um termo que traduz de forma explícita passividade. Soltar, largar, estar solto, livre. No caracter gong 公 podemos ainda encontrar o 8, simbolo do interminável, e o privado. Podemos evoluir o pensamento no sentido de soltar, libertar em todo o lado, dentro e fora.
Mas quando e como aplicamos o princípio Song?
Quando?
Sempre, é um princípio básico para que a energia possa circular.Sabemos que para a energia possa circular os tecidos necessitam estar soltos, por isso devemos sempre estar em neste estado
Mas então como aplicamos este princípio na nossa prática?
Fang song (放松) ou relaxar e soltar é usualmente treinado, numa primeira etapa, com postura estática. Depois de adquirirmos a estrutura correcta, sendo essencial soltar as articulações (joelhos, bacia, ombros, omoplatas…), devemos abrir a nossa coluna através da ascenção de Baihui, topo da cabeça.
Após este processo devemos, passo a passo, suspender todo o corpo tendo como único ponto fixo, Baihui. Mais do que uma visualização intencional, o objectivo de Fang song é o de soltar todo o corpo, deixando o estar sem qualquer tipo de intencionalidade e objectivo.
Uma imagem que me ajudou a entender Fang song foi a ideia do saco de àgua suspenso. Se pendurarmos o saco ao alto (Baihui) toda a água (Qi) se vai deslocar para baixo, quanto mais quanto o próprio saco (corpo) permitir.
Este é o estado básico em que o corpo começa o seu processo de transformação, pois apenas quando o corpo se liberta o Qi começa realmente a circular e a provocar transformação. Na realidade é também após o processo de Fang song que o enraizamento (Gen-根) se processa.
Se não estava familiarizado com este termo, sugiro que o aprofunde e que o aplique pois é essencial para possa realizar a prática interna
Mais informações: Os 6 níveis de Song
Activo quer dizer que a mente deve conduzir o Qi, a respiração deve conduzi-lo e o corpo deve mover-se de acordo
Relaxado significa que o corpo não deve obstruir a circulação do Qi. O corpo físico deve estar solto, as articulações desbloqueadas, a respiração deve existir com fluidez, a mente deve estar atenta mas sem se prender a qualquer acontecimento interno como externo.
Yin e Yang devem estar em sintonia na prática interna.
Usualmente, dizemos que o praticante deve aprender a enraizar, a puxar o Qi para baixo, levando-o até à terra (enraizamento 根). Todos os que praticam Qi gong e Taiji já devem ter ouvido este termo inúmeras vezes. Faz menção de fazer descer o Qi, levar a nossa atenção à região inferior do corpo e à sua ligação com a Terra.
Há uns anos tomei contacto com o termo Song( 松 ) é muito usado no treino de Taiji.
Song quer dizer soltar, relaxar (palavra perigosa que não representa o objectivo na prática), largo
Antes de avançar é interessante estudar o caracter
Se o decompusermos encontramos:
Mu - 木 - madeira, árvore
Gong - 公 - justo, honorável, comum, justo
por sua vez Gong é composto, também ele, por dois caracteres
Ba - 八 - Número 8, todos os lados, de todo o lado
Si - 厶 - Privado
Podemos ainda fazer outro exercício interessante e comparar Song (松) com Gen (根)
Se os observarmos entendemos que possuem o mesmo radical, Mu (木). O radical é o que dá o sentido ao caracter. Então ambos se ligam, se dizem respeito. Mas são diferentes
Gen (根) possui também gen-艮, que neste caso confere a fonética. Pois Gen, traduzido como enraizamento, trás o seu simbolo de Mu (木). A árvore, sólida e estável que se envolver com a terra.
Voltando ao termo Song entendemos que é um termo que traduz de forma explícita passividade. Soltar, largar, estar solto, livre. No caracter gong 公 podemos ainda encontrar o 8, simbolo do interminável, e o privado. Podemos evoluir o pensamento no sentido de soltar, libertar em todo o lado, dentro e fora.
Mas quando e como aplicamos o princípio Song?
Quando?
Sempre, é um princípio básico para que a energia possa circular.Sabemos que para a energia possa circular os tecidos necessitam estar soltos, por isso devemos sempre estar em neste estado
Mas então como aplicamos este princípio na nossa prática?
Fang song (放松) ou relaxar e soltar é usualmente treinado, numa primeira etapa, com postura estática. Depois de adquirirmos a estrutura correcta, sendo essencial soltar as articulações (joelhos, bacia, ombros, omoplatas…), devemos abrir a nossa coluna através da ascenção de Baihui, topo da cabeça.
Após este processo devemos, passo a passo, suspender todo o corpo tendo como único ponto fixo, Baihui. Mais do que uma visualização intencional, o objectivo de Fang song é o de soltar todo o corpo, deixando o estar sem qualquer tipo de intencionalidade e objectivo.
Uma imagem que me ajudou a entender Fang song foi a ideia do saco de àgua suspenso. Se pendurarmos o saco ao alto (Baihui) toda a água (Qi) se vai deslocar para baixo, quanto mais quanto o próprio saco (corpo) permitir.
Este é o estado básico em que o corpo começa o seu processo de transformação, pois apenas quando o corpo se liberta o Qi começa realmente a circular e a provocar transformação. Na realidade é também após o processo de Fang song que o enraizamento (Gen-根) se processa.
Se não estava familiarizado com este termo, sugiro que o aprofunde e que o aplique pois é essencial para possa realizar a prática interna
Mais informações: Os 6 níveis de Song
sexta-feira, 5 de abril de 2019
Nei Gong (内功) - Desenvolvimento interno
A prática interna é O grande objectivo daquele que busca a realização.
Podemos estabelecer uma analogia com uma pessoa que decide "ir de fim-de-semana". A pessoa decide onde ir (realização). Para chegar ao seu destino existem diversas possibilidades, caminhos (diferentes praticas, religiões) mas todas elas alcançam o mesmo fim. Neste sentido a prática interna ou Nei gong é o momento que se segue à decisão até à chegada ao destin9, seja qual for o caminho escolhido.
No Daoismo há um caminho apresentado. O termo Nei gong já apresenta, em parte, um pouco do procedimento.
Para melhor entender o que Nei gong poderá significar é Fundamental estudar os caracteres;
Nei gong são dois caracteres Nei-interno e Gong-prática
内 Nei - É composto por dois caracteres
冂 Jiong - Caixa
人 Ren - Pessoa
人 Ren - Pessoa
Podemos ver este caracter como uma pessoa a entrar num espaço ou caixa. A ir para o interior
功 Gong - É também composto por dois caracteres
力 Li - Capacidade, força, influência
工 Gong - Trabalho, técnica, profissão
工 Gong - Trabalho, técnica, profissão
O segundo caracter de Gong-工 possui a mesma fonética e fornece ao caracter Gong-功 o som, mas também o enriquece com o seu significado
Li induz a ideia de potencial (capacidade, força), enquanto que Gong-工 a continuidade; pois o trabalho é diário e árduo, uma profissão requer capacidade (Li), a técnica desenvolve-se com o tempo
Gong-功 é usualmente traduzido como prática, neste contexto, mas pode também ser interpretado como desenvolvimento. Se analisarmos os caracteres que o compõem essa ideia torna-se mais clara.
Li induz a ideia de potencial (capacidade, força), enquanto que Gong-工 a continuidade; pois o trabalho é diário e árduo, uma profissão requer capacidade (Li), a técnica desenvolve-se com o tempo
Gong-功 é usualmente traduzido como prática, neste contexto, mas pode também ser interpretado como desenvolvimento. Se analisarmos os caracteres que o compõem essa ideia torna-se mais clara.
Podemos então traduzir Nei gong como desenvolvimento interno.
Nei gong é então, em primeiro lugar, algo que se passa no interior. Neste caso sendo algo que se passo no interior do nosso corpo. E o que se passa, através da prática continuada (trabalho...) é o desenvolvimento.
Então quem pratica o Nei gong busca o seu desenvolvimento interno, o desenvolvimento do corpo subtil não perceptivel aos olhos comuns, o Shen - espirito/consciência/percepção/mente.
Benvindos ao caminho interno
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
O Dao e a minha caminhada alquímica - Post 02 O enraizamento
Nestes últimos anos tenho desenvolvido o enraizamento, um termo bastante usado nestas práticas.
Mas o que significa enraizamento?
Enraizamento é a capacidade de fazer descer o Qi para a parte inferior do corpo, para a
s pernas e pés. Treina-se inclusive a descida do Qi para o solo penetrando-o
Enraizamento é a capacidade de fazer descer o Qi para a parte inferior do corpo, para a

Esta e uma definiçao clássica que abre a possibilidade a várias interpretações e com estas, a tendência à dispersão e ilusão.
Vou partilhar o meu entendimento de enraizamento...
Existem, para mim, 3 níveis de profundidade:
- Jing - físico, a estrutura
- Qi- Atenção/percepção ou Yi e Respiraçao
- Shen - Consciência
- Jing - físico, a estrutura
- Qi- Atenção/percepção ou Yi e Respiraçao
- Shen - Consciência
- Jing - Ao nível mais físico a preocupação é desenvolver a estrutura de forma a obter um bom enquilíbrio e a possibilitar ao corpo a melhor circulação de ene
rgia possível. Desta forma a força da gravidade circula pelo corpo sem criar qualquer tipo de problema (dores de coluna, joelhos, etc). Em todo o trabalho de Qi gong e Tai ji, o trabalho sobre a postura corporal é fundamental. Para além de abrir portas ao trabalho energético é objectivamente benéfico para o bem estar e no cultivo da saúde. A este nível é fundamental sentir o peso bem distribuído pelos pés e manter todas as articulações (com especial atenção para a cintura e membros inferiores) livres de tensão. À medida que a postura se vai desenvolvendo e sedimentando, várias alterações são notadas pelo praticante… Desde a segurança ao andar, bem como uma sensação de maior proximidade com o chão são sentidas - Qi - Neste estágio intermédio elevamos o nosso trabalho para a respiração bem como para um estado físico mais alargado. A respiração abdominal (normal ou invertida) leva o Qi para o abdómen inferior, levando-nos a obter um novo centro de gravidade (mais próximo do chão). Esta respiração promove também um maior desenvolvimento energético como ajuda a que a bacia se desbloqueie e desenvolva, permitindo que os membros inferiores se mantenham mais ligados ao corpo. É também a respiração uma forma de levar a nossa atenção/percepção para uma zona diferente do corpo chamando assim a nossa consciência a um novo ponto de referência bem distante da cabeça.
- Shen - Neste momento já estamos a explorar toda a nossa consciência. Na realidade ela começa a desenvolver-se logo no primeiro passo, pois nenhum destes "3 níveis" está dissociado, mas é nesta fase que esse desenvolvimento se torna prioritário. Aqui, e com todas as restantes conquistas obtidas, queremos levar a nossa consciência a todo o corpo. Nesta fase, devemos manter a nossa mente focada no nosso corpo, na realidade! É fácil começar a imaginar, a sonhar… É mais fácil ainda deixarmos a nossa mente vaguear por sensações obtidas no corpo… As sensações são apenas acontecimentos temporários e menores de uma transformação interna! Ficarmos presos na sensação é ignorar o que está realmente a acontecer. Portanto a este nível outra das coisas que trabalhamos é o desprendimento, a capacidade de observar sem se ligar e de sentir sem com isto manter o querer… Aprender a apenas estar
Em suma, o enraizamento é todo um processo que nos acompanha na transformação interna. O enraizamento está mesmo, directamente ligado ao nosso crescimento e grau de consciência. Estes "3 níveis" são apenas uma forma de dissecar um processo e não forçosamente um método, pois em todo o processo tudo está envolvido.
Para terminar, o trabalho de enraizamento é muito mais que uma postura, ele pode ser feito no dia a dia, em pé sentado ou deitado, a trabalhar ou a descansar e em qualquer lugar. O trabalho sobre o enraizamento ensina-nos a estar presentes e as consequências vão muito para lá do plano meramente físico
terça-feira, 2 de outubro de 2018
O Dao e a minha caminhada alquímica - Post 01 O meu início
A vida vai-nos conduzindo, na maioria das vezes, sem que possamos dar conta disso sequer. Foi e continua a ser assim. Posso então dizer que a minha caminhada começou com o meu nascimento, mas essa foi inteiramente inconsciente.
Conscientemente a minha caminhada começou em 2002, quando ingressei no curso de Naturologia. Nessa altura não tinha qualquer tipo de pensamento filosófico, nem qualquer noção profunda sobre as artes orientais a não ser um conhecimento superficial sobre as artes marciais. Os anos de 2002 e 2003 tiveram um tremendo impacto em mim pois tomei conhecimento de um mundo que pensava apenas imaginário e fantasioso. Mergulhei na filosofia Chinesa e na prática de Qi gong. Embora a prática energética me tivesse fascinado não foi nessa altura que a aprofundei. Muito devido ao meu "mindset" foi a partir dessa altura que comecei a devorar todos os livros que exploravam a Medicina Chinesa, a filosofia Chinesa e em especial o Daoismo. Seguiram-se os anos e continuaram as leituras até que em determinada altura decidi começar a aplicar tudo o que havia aprendido do ponto de vista teórico.
Nessa altura já trabalhava em clínica com Acupunctura e comecei então a apreender a prática de Qi gong.
Durante vários anos a minha prática era intelectual e por isso desligada do meu corpo.
quero com isto dizer que eu fazia um exercício físico e, em simultâneo, pensava no que estava a fazer e tentava induzir determinados acontecimentos. Foram vários os ANOS em que isso aconteceu. A sensação não era especialmente prazerosa mas a verdade e que sentia resultados práticos, como maior serenidade, e flexibilidade articular.
Porque sou obstinado naquilo que faço, nunca abandonei completamente a minha prática.
Nesses anos uma das grandes evoluções que sofri foi a da respiração. Era-me impossível praticar respiração abdominal.
Conscientemente a minha caminhada começou em 2002, quando ingressei no curso de Naturologia. Nessa altura não tinha qualquer tipo de pensamento filosófico, nem qualquer noção profunda sobre as artes orientais a não ser um conhecimento superficial sobre as artes marciais. Os anos de 2002 e 2003 tiveram um tremendo impacto em mim pois tomei conhecimento de um mundo que pensava apenas imaginário e fantasioso. Mergulhei na filosofia Chinesa e na prática de Qi gong. Embora a prática energética me tivesse fascinado não foi nessa altura que a aprofundei. Muito devido ao meu "mindset" foi a partir dessa altura que comecei a devorar todos os livros que exploravam a Medicina Chinesa, a filosofia Chinesa e em especial o Daoismo. Seguiram-se os anos e continuaram as leituras até que em determinada altura decidi começar a aplicar tudo o que havia aprendido do ponto de vista teórico.
PRÁTICA
Durante vários anos a minha prática era intelectual e por isso desligada do meu corpo.
quero com isto dizer que eu fazia um exercício físico e, em simultâneo, pensava no que estava a fazer e tentava induzir determinados acontecimentos. Foram vários os ANOS em que isso aconteceu. A sensação não era especialmente prazerosa mas a verdade e que sentia resultados práticos, como maior serenidade, e flexibilidade articular.
Porque sou obstinado naquilo que faço, nunca abandonei completamente a minha prática.
Nesses anos uma das grandes evoluções que sofri foi a da respiração. Era-me impossível praticar respiração abdominal.
RESPIRAÇÃO
Nessa altura já tinha muita teoria sobre o assunto e então durante as minhas práticas, muita da minha atenção estava voltada para o desenvolvimento da respiração abdominal. Fazia sempre esforço para que o diafragma se soltasse. Por isso e outras coisas mais, não conseguia ter uma prática serena. Mas na realidade estava a construir bases para o futuro da minha prática. Nessa fase da minha vida sentia muitas vezes dor abdominal quando forçava a respiração e por vezes quebras de tensão, tal era o bloqueio no meu diafragma.
Nessa fase da minha vida aprendi também alguns estilos de Qi gong como o estilo de Wu dang pelo qual me afeiçoei especialmente.
Posso dizer que os primeiros 10 anos de prática, sensivelmente, foram de desenvolvimento teórico e estrutural, sem eu ter tirado um proveito profundo daquilo que o Nei gong pode produzir. Estava longe de descobrir outros efeitos desta prática...
domingo, 16 de setembro de 2018
O Dao e a minha caminhada alquímica - Post 00
A partir de hoje, poderão acompanhar o meu percurso.
Decidi partilhar a minha caminhada por achar que pode ser útil a todos os que buscam o mesmo.
A partir de agora poderão acompanhar a todas as minhas publicações sobre este tema através da etiqueta " A minha experiência alquímica "
Estas publicações serão, inicialmente, uma retrospectiva do meu percurso até aos dias de hoje. Mais tarde as publicações estarão actualizadas com os dias actuais.
Antes da minha caminhada ocupar lugar, de forma consciente, eu vivia sonhando e imaginando.
Sempre tive crenças intrínsecas que nunca pude explicar, mas que simplesmente sentir.
Sempre vi o mundo de uma forma particular, sem que esta visão fosse entendida pelos meus familiares e amigos.
Durante a minha infância estava por vezes deslocado pois a minha mentalidade não encaixava na totalidade na dos meus amigos. Considero-me uma pessoa normal. E por isso nunca me senti completamente deslocado. Isso acontecia em determinadas situações. Lembro-me por exemplo que cada vez que tinha de interpretar um texto nas aulas, raramente a interpretação batia certo com a "versão correta". Para um jovem isso é um pouco chato pois somos vistos como tendo dificuldades aqui ou ali, quando na verdade somos apenas diferentes. Foram precisos muitos anos para eu entender que não há certo nem errado em muitas dos aspectos da nossa vida. Na realidade a riqueza da humanidade reside na capacidade de cada Ser ser único. É isso que nos faz evoluir e crescer em grupo. O problema é que a Sociedade tende a criar um padrão que retira a criatividade e liberdade de pensamento do indivíduo, "ensinando-o" a pensar da forma correcta.
Hoje vivo seguro de mim, consciente das minhas qualidades, bem como fragilidades. Mas essa descoberta ocorreu de forma solitária, pois ninguém me conseguiu ajudar nesse processo.
Partilho esta história pois penso não ser o único a viver e ter vivido algo do género. É muito importante escutarmos os outros, mas é fundamental escutarmo-nos! Isso diria mesmo é determinante naquilo que será a nossa vida. É a grande diferença entra a realização e uma vida frustrada. Apenas sabendo quem somos podemos determinar o nosso caminho. Seguir um caminho incutido por alguém, é como querermos ir às compras de olhos vendados. O mais certo é não conseguirmos.
Espero que as futuras publicações possam ser úteis.
Decidi partilhar a minha caminhada por achar que pode ser útil a todos os que buscam o mesmo.
A partir de agora poderão acompanhar a todas as minhas publicações sobre este tema através da etiqueta " A minha experiência alquímica "
Estas publicações serão, inicialmente, uma retrospectiva do meu percurso até aos dias de hoje. Mais tarde as publicações estarão actualizadas com os dias actuais.
Antes da minha caminhada ocupar lugar, de forma consciente, eu vivia sonhando e imaginando.
Sempre tive crenças intrínsecas que nunca pude explicar, mas que simplesmente sentir.
Sempre vi o mundo de uma forma particular, sem que esta visão fosse entendida pelos meus familiares e amigos.
Durante a minha infância estava por vezes deslocado pois a minha mentalidade não encaixava na totalidade na dos meus amigos. Considero-me uma pessoa normal. E por isso nunca me senti completamente deslocado. Isso acontecia em determinadas situações. Lembro-me por exemplo que cada vez que tinha de interpretar um texto nas aulas, raramente a interpretação batia certo com a "versão correta". Para um jovem isso é um pouco chato pois somos vistos como tendo dificuldades aqui ou ali, quando na verdade somos apenas diferentes. Foram precisos muitos anos para eu entender que não há certo nem errado em muitas dos aspectos da nossa vida. Na realidade a riqueza da humanidade reside na capacidade de cada Ser ser único. É isso que nos faz evoluir e crescer em grupo. O problema é que a Sociedade tende a criar um padrão que retira a criatividade e liberdade de pensamento do indivíduo, "ensinando-o" a pensar da forma correcta.
Hoje vivo seguro de mim, consciente das minhas qualidades, bem como fragilidades. Mas essa descoberta ocorreu de forma solitária, pois ninguém me conseguiu ajudar nesse processo.
Partilho esta história pois penso não ser o único a viver e ter vivido algo do género. É muito importante escutarmos os outros, mas é fundamental escutarmo-nos! Isso diria mesmo é determinante naquilo que será a nossa vida. É a grande diferença entra a realização e uma vida frustrada. Apenas sabendo quem somos podemos determinar o nosso caminho. Seguir um caminho incutido por alguém, é como querermos ir às compras de olhos vendados. O mais certo é não conseguirmos.
Espero que as futuras publicações possam ser úteis.
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