segunda-feira, 4 de maio de 2020

Ge Hong, o Mestre da Simplicidade

Dotado de uma extrema humildade, de um profundo conhecimento literário daoista, confucionista e histórico de uma forma geral. Mais do que para o Daoismo em particular, este é um homem muito importante na história da China.

Acredita-se que Ge Hong viveu entre 283e 343 anos D.C. Também conhecido como o Mestre que emana a Simplicidade, Ge Hong foi um Homem muito especial para os seus tempos e ainda para o dias de hoje.

Para conhecer Ge Hong nada melhor do que ler a sua autobiografia disponível no clássico Baopuzi Neipian:

"O meu nome de família é Ge, o meu nome é Hong e o meu segundo nome Zhichuan. Sou de Jurong, na região de Danyang. Um dos meus ancestrais foi um soberano da antiguidade. Quando o seu reino caiu para um principado, o seu nome tornou-se um nome de família, Ge...
Eu sou o 3º filho de meu pai. Tendo nascido mais tarde fui mimado pelos meus pais e não fui forçado a estudar os clássicos muito cedo. Tinha 13 anos quando o meu pais nos deixou e por isso, perdi precocemente os seus ensinamentos. Ameaçado pela fome, frio, miséria e doença fui trabalhar para a agricultura.
Todos os livros do meu pai desapareceram durantes as guerras e incêndios de que fomos vítimas ao longo do tempo e não tinha nada para ler quando chegávamos à estação morta. Eram raras as vezes que me emprestavam algo para ler. Durante o dia eu cortava e vendia mandeira para poder comprar papel e pincéis. De noite, acampando num jardim ou campo, copiava os livros à luz de uma fogueira. Tudo isto fez com que me dedicasse, desde muito cedo à composição literária. Tinha muitas vezes falta de papel, as minhas folhas estavam sempre cobertas de caracteres sobre as duas faces. Era raro que outros para além de mim, conseguissem ler essas folhas."

"Aos 16 anos comecei a lei o clássico da Piedade filial, as ocupações de Confúcio, o livro das Odes e o clássico das Mutações. Mas na minha miséria, não tinha possibilidades de partir para longe à procura de um mestre ou de alguém com quem pudesse debater estes assuntos. Ignorante de tudo, de uma compreensão superficial, as grandes directrizes destas doutrinas escapavam-me frequentemente. Estava, nessa altura ávido por leituras de todo o tipo. E foi assim que chegou a altura em que não havia um livro que não pudesse recitar e compreender no essencial. Tomei conhecimento de cerca de 10 mil rolos, desde os clássicos,  os de histórias e filosofia até alguns textos curtos e variados. Mas tinha uma natureza pouco desperta e esquecia com facilidade; ainda por cima, faltava-me o espírito literário e a minha vontade tinha falhas. Também, o meu saber era insuficiente e por isso, as confusões eram inevitáveis. Estas leituras permitiram, contudo, fazer algumas citações nas minhas escrituras. Mas como nunca fui um verdadeiro letrado, não pude transmitir o conhecimento com mestria."
Este excerto atesta bem o porquê de Ge Hong ser muitas vezes de apelidado do Mestre da Simplicidade. Embora seja ainda hoje reconhecido como um Homem, ele mantinha sobre si, uma humildade poucas vezes encontrada. Era transparente quanto às suas raízes e humilde sempre que assumia qualquer coisa.

Ge Hong escreveu dois livros, O Baopuzi Neipian (tratado esotérico) e o Baopuzi Waipian (tratado exotérico), a Biografia dos Divinos Imortais, a Biografia dos Ermitas. Escreveu também poesia, pensamentos e recitais. Na sua autobiografia ele aprofunda;


"no meu tratado esotérico estão receitas e tratamentos dos Divinos Imortais, transformações dos fantasmas e demónios, arte de cultivar e prolongar a vida e conspirações afim de evitar a doença. Estes pertencem à escola Daoista. O meu tratado exotérico fala do bem e do mal na sociedade dos homens, dos erros e da razão nos negócios do mundo, estes pertencem à escola confucionista."

Quando lemos a sua autobiografia na íntegra, verificamos o extenso conhecimento que este ser humano possuía sobre assuntos Daoistas, Confucionistas, sociais e políticos. Era um homem com um interesse literário enorme, como já descrito por si acima.

Atestando a sua simplicidade e humildade termina a sua autobiografia dizendo:

"Não me consegui elevar à altura da águia e ajudar o meu país, e não passarei como os meus ancestrais ilustres à posteridade. Não posso esperar que os históriadores integros me façam referência, nem esperar pelo meu nome gravado em vasos de bronze. É por essa razão que adicionei esta biografia às minhas escrituras. Não ajudará nada à minha familia ou ao meu sucesso, mas irá permitir a futuras gerações conhecer a minha história"

Se há ensinamento que Ge Hong esse é o da humildade e simplicidade, às vezes parece até tocar a humilhação. Em todos os temas ele está constantemente a relembrar o leitor o quão limitado é nos seus conhecimentos.

Ge Hong foi um homem que fez um estudo exaustivo sobre o Confucionismo e o Daoismo. Como acima referido, estudou o confucionismo sobretudo para entender as relações humanas sobretudo em sociedade e a nível politico. O Daoismo permitiu que tentasse entender, a seu ver sem sucesso, a via dos Divinos Imortais (Imortalidade). As escrituras que deixou são hoje objecto de estudo e são no fundo uma compilação de textos clássicos completada pelas suas reflexões.

Para todos os que se interessam por filosofia e alquimia Daoista, é fundamental conhecer a obra deste Homem tão importante na história Chinesa mas também do Daoismo.

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