quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O Dao e a minha caminhada alquímica Post 11 - A importância da Contemplação

 Para quem, como eu, decide partir esta caminhada espiritual, há ferramentas que temos sempre de levar connosco. Como o alpinista leva casaco, gorro, luvas e todas as ferramentas de que necessita, também nós precisamos de ferramentas para esta árdua caminhada.

O caminho espiritual está cheio de espinhos e obstáculos, é inteligente estarmos bem preparados para o que aí vem.

Contemplação

A contemplação sempre foi uma forma de ajudar o caminhante espiritual. Uma forma de levantar o ânimo, de manter as forças, o alento. A contemplação pode começar por ser uma ferramenta motivacional, mas creio que tem capacidade para ser muito mais do que isso.

Podemos aprender a contemplar a paisagem, a comida, a casa, etc. Mas à medida que fazemos este exercício encontramos mais situação que requerem a nossa contemplação. Na realidade parece não haver fim ao sem número de "coisas" que podemos contemplar. Isto acontece porque a contemplação anda de mãos dadas com a consciência. Acredito na realidade que a prática contemplativa é uma janela da consciência, que nos permite estar mais "acordados" perante a realidade que vivenciamos.



Por isso a contemplação é, em meu entender, não só uma ferramenta útil, como indispensável para o caminhante espiritual pois ela permite uma aproximação ao Shen-espírito

Podemos contemplar todo o mundo ilusório que vivemos, mas podemos contemplar a nossa existência. O conjunto de milagres que têm de suceder a cada segundo para podermos vivenciar esta experiência. As trocas gasosas (oxigénio), as trocas químicas (neuronais), os impulsos elétricos (batimento cardíaco, função motora)... Todas estas funções a trabalhar incessantemente para que possamos estar disponíveis para vivenciar este mundo, sendo que tudo o que queremos é libertarmo-nos dele e regressar à origem.

Contemplar tudo isto é presenciar a magia deste mundo complexo e é incluir a ilusão na verdade, mas efectivamente verdade e ilusão provêm da mesma fonte. A contemplação une e por isso permite a transcendência da dualidade.

A contemplação é por si só uma prática muito poderosa que deve ser tida em consideração e praticada com devoção

segunda-feira, 28 de março de 2022

Zhu Yuan Zhang

Falar de Zhu Yuanzhang é falar da queda do Império mongol e do início da dinastia Ming (1368-1644).


A fome as pragas e as revoltas populares foram tomando lugar por todo o território. A resistência aumentou até que, um líder surgiu para comandar as tropas contra o Império Mongol. Zhu Yuanzhang liderou as tropas que derrotaram o Império Mongol, obrigado-os a recuar até às estepes da euroásia (Actual Mongólia, Xinjiang, Sibéria, Hungria, Kazaquistão, Rússia ocidental, Ucrânia, Moldávia, Roménia e Bulgária).

Após vencer a batalha, reclamou o mandato celestial tomando como base a capital de Yuan, actual Nanjing. Foi o primeiro camponês a tornar-se Imperador, iniciou a dinastia Da Ming ("Grande Brilho), que ficou conhecida como a Dinastia Ming.

Zhu Yuan nasceu em Fangyang (província de Anhui) e era filho de camponeses. Aos 16 anos e após uma época de grande seca, perdeu toda a sua família. Após a morte da sua família acabou por tornar-s monge budista no templo de Huangjue. Apesar disto, acabou por ter de deixar o templo, aparentemente por falta de meios. Tornou-se um pedinte vagueando pela região. Após 3 anos regressou ao templo onde ficou durante 24 anos. Aqui aprendeu a ler e a escrever. 
Acredita-se que a destruição do seu templo pelas mãos dos mongóis terá iniciado a sua revolta que levaria ao fim dos próprios mongóis.

Deste início humilde veio a nascer uma dinastia que governou através de 17 Imperadores num período superior a 276 anos.

Ao tornar-se Imperador Zhu Yuanzhang ficou conhecido como o Imperador Hongwu, tendo governado durante 30 anos (desde 1368 até 1398).

O Imperador Hongwu ficou na história por ter derrotado os Mongóis, forças invasoras, por ter respeitado as minorias e as diferentes religiões. Ele promoveu inclusive a renovação e construção de diversos mosteiros em Xi'an e Nanjing.

O Imperador Hongwu foi responsável por reformas nunca antes vistas como a anulação do cargo de Chanceler, a diminuição de poder dos Eunucos, tendo adotado medidas fortes para combater a corrupção. Formou ainda a policia Imperial secreta, que veio a ficar na História da China como uma das melhores forças secretas.

Promoveu a agricultura e a expansão dos terrenos usados, ajudou o povo baixando os impostos e criando leis para protecção de propriedade.

O Imperador Hongwu fica na história como um dos maiores imperadores da China.


Ver mais (EN)

domingo, 27 de março de 2022

A luz espiritual

A luz espiritual é a realização do interno. Quando as pessoas alcançam o interno, os seus órgãos internos ficam calmos, os seus pensamentos em equilíbrio, o olhos e ouvidos desimpedidos, e os seus sinus e ossos ficam fortes. Eles tornam-se poderosos mas não polémicos, firmos e fortes mais nunca exaustos. Não são excessivos em nada, nem tão pouco inadequados em nada.

                                                                     Wentzu

segunda-feira, 21 de março de 2022

O Dao e a minha caminhada alquímica Post10 - As flores que brotam no caminho

 A prática interna é, em grande parte invisível e para muitos, completamente imperceptível. Essa é só mais um dos desafios desta caminhada solitária, a incapacidade do outro em nos compreender, pois acha que nada estamos a fazer embora observe todos os esforços nessa tentativa. A verdade é que o caminho interno é um caminho extremamente produtivo e transformador. Essa transformação é objectiva, pois cada um de nós, que se desafia nessa caminhada, sente em si o poder dessa transformação. 

"Um grão de areia é um grão de areia, existe. Nem por isso chama a atenção de alguém"

Nas transformações que vão acontecendo ao longo da nossa vida, algumas são perceptíveis aos olhos dos olhos, mas a maioria é apenas percebida por nós. É também por isso que, aos olhos externos, podemos desenvolver um certo fundamentalismo, pois as pessoas não conseguem entender racionalmente o porquê de estarmos vinculados a determinados princípios, práticas aos quais não atribuem especial valor

Hoje queria partilhar algumas das diversas flores que vão surgindo nesta longa caminhada que também decidi fazer.

Há já uns anos que fui despertando em mim uma certa sensibilidade interna, consciência maior do que se passa "cá dentro". Ainda sem conhecer bem esses mistérios, por vezes é me possível ajudar o corpo nas suas tarefas diárias e por vezes extenuantes.

Há uns dias fiquei com uma dor no joelho direito. Era uma dor interna e medial que me incomodava ao andar e em qualquer movimento que a perna fizesse. Tive um dia cansativo e quando me fui deitar a dor continuou presente...

Foi então aí que decidi colaborar com o meu corpo. Experiências anteriores motivam-me, nestas situações, a procurar um estado de relaxamento físico em que o corpo parece quase desapegar-se do corpo energético. Uma vez chegado a este estado, coloco a minha atenção na região que me incomoda.

Desta vez, para minha surpresa, não senti qualquer alteração imediata o que me fez pensar que nada conseguiria fazer...

Acabei por adormecer neste estado.

Na manhã seguinte, quando acordei a dor não estava lá! Voltei a senti-la mais tarde, já de pé mas com uma intensidade completamente diferente, e como já em modo "cicatrização".


Para alguns que possam ler este artigo, isto pode ser coincidência, fruto da minha cabeça, ou outra coisa qualquer. Mas para mim, que já tive outras situações semelhantes, trata-se de uma flôr atribuida por anos e anos de árduo trabalho que me permitiram aprender a colaborar com o corpo e a tirar melhor proveito dele. Estas pequenas flores que vamos colhendo aqui e ali, dizem-nos objectivamente que devemos continuar o caminho, que é por aqui. 

Fica aqui a partilha de um momento simples mas que às vezes nos leva a ter mais certezas ;)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Dao e a minha caminhada alquímica - post 09 - A resiliência

Há quase 20 anos que tenho contacto com o Daoismo, há cerca de 18 que fui introduzido ao Qi gong e há cerca de 15 que comecei timidamente as minhas práticas internas ou assim pensava eu...

Toda e qualquer prática que leve a um profundo entendimento quiçá mestria, necessita de muita insistência, persistência e resiliência.



Ao longo de todos estes anos essa tem sido a minha verdadeira batalha. Adquirir e manter a motivação necessária para uma prática regular, pois apenas desta forma é possível evoluir verdadeiramente

Nos primeiros anos tinha a ilusão que o importante era aprender muitas coisas, tomar contacto com estilos diferentes, professores diferentes. É certo que isso tem a sua importância mas talvez não aquela que acharia em primeira instância. Não é a diversidade que nos dá a profundidade, essa encontra-se na prática incessante de algo muito concreto. O que a diversidade acaba por nos mostrar é que ela é apenas e só isso, diversidade. E que com ela a única coisa que podemos esperar é superficialidade... Sim, por isso isso hoje se segue muito o princípio da especialização, pois dessa forma podemos-nos dedicar a algo de concreto e assim aprofundar o nosso entendimento. Claro que esta conclusão já requer um entendimento que em muito é importante na nossa caminhada, pois retira-nos desde logo uma parte da ilusão permitindo assim que o caminho se torne menos sinuoso e mais directo para alcançarmos o nosso objectivo.



Há cerca de 8 anos comecei a fazer essa preparação, a de identificar exactamente o que pretendo e estudar afincadamente o que decidi seguir. Essa decisão mostrou-se revolucionária no sentido em que me permitiu ter mais foco na minha vida, em todos os seus domínios. 
A partir do momento que tomei essa decisão, comecei a estudar mais o que já sabia (ou que julgava saber) e procurando um estilo completo que eu pudesse levar comigo por muitos anos. Isso manifestou-se também na minha prática clínica de Medicina Chinesa e na minha vida pessoal. 

Enquanto que o olhar externo veja eu estar a fechar-me e a ficar circunscrito a poucas coisas, o que eu constato é a evolução e crescimento, agora, de forma real. É dificil pôr isto em palavras, mas é muito diferente obter informação e até mesmo conhecimento, de obter entendimento. Na minha maneira de observar e sentir, é no entendimento que se dá um passo substancial no nosso crescimento, é quando o conhecimento se torna parte de nós e nós parte dele.

Vamos supor que construimos uma casa. Vamos precisar de cimento, tijolos, janelas, telhas, pavimento, etc, etc. Todos estes materiais são o conhecimento. Nós, somos o terreno onde esses materiais são depositados. À medida que os materiais vão sendo aplicados, com o tempo, a casa vai ganhando forma e vai-se fundindo com a terra também. Quando concluimos a construção da casa, temos um elemento, já não há mais o tijolo ou a janela; a telha ou o cimento, temos a Casa. Também não vemos a casa como implantada no terreno mas sim integrada no terreno. É assim que vejo o entendimento, quando o conhecimento já não é um material que se pode discriminar, mas sim é parte integrante de nós. A manifestação desse entendimento é muitas vezes feita sob a forma tranquila pois a convicção elimina o medo, sem medo não há insegurança, sem insegurança não há ansiedade, sem ansiedade não há lugar à exacerbação emocional.

Mas este texto é sobre resiliência e é sobre resiliência porque sermos capazes de nos "fecharmos" numa tarefa, quando o mundo nos convida diariamente para a diversificação/dispersão requer essa qualidade. Neste caso em concreto via requerer também que aceitemos abdicar de outras vivências e experiencias em prol do que achamos melhor para nós.

Com resiliência vamos conseguir aprofundar o nosso entendimento e descobrir que menos pode ser mais e que mais pode ser menos. Vamos aprender muitas coisas sobre a vida que não nos são ensinadas e desenvolver certezas que só nós podemos descobrir.

A caminhada é longa e todos terão de percorrer a sua. Mas certamente que todos nós ficaremos a ganhar se desenvolvermos esta qualidade


sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Simplicidade

 A via da simplicidade oferece-nos diversas conquistas. Ela liberta-nos para um bem estar dificil de ser equiparado.

Quando vivemos a simplicidade, não há lugar para a competição, pressão e ansiedade. Para quê?

Buscar uma vida Simples, ser um Homem simples e buscar a Simplicidade no mundo que nos rodeia permite-nos também, escapar às tentações efêmeras e que tanto nos inquietam

Não há ninguém que não entenda o que é levar uma vida simples, é um caminho que não está encriptado culturalmente e que por isso, todos podem percorrer.

Ao procurar a simplicidade aceitamos a nossa condição de humanos, que congrega em si o limite fisico a dificuldade o obstáculo e a impossibilidade. Esse reconhecimento e aceitação liberta-nos de estados como a inveja, o sentimento de injustiça, a revolta ou a mágoa. 
Mas viver de forma simples é sobretudo reconhecer a grandiosidade do espírito, é entender que só por esta via ele se engrandece se expande.

Viver de forma Simples adormece o ego, e entrega à mente uma nova forma de ver o mundo

quarta-feira, 6 de maio de 2020

O Dao e a minha caminhada alquímica - post 08 - A sexualidade



Este é um tema muito debatido em todas as esferas, o Daoismo não poderia deixar de o tratar. O que é interessante é que o Daoismo parece ter duas visões distintas sobre a sexualidade. Uns que veem a sexualidade como uma ponte a transformação energética, outros como um furo que nos esgota a energia.

É sem dúvida um tema complexo, cheio de medos, tabus, paranoias e preconceitos. Outra coisa interessante é que o homem, sim sobretudo o homem tem um desejo intrínseco que lhe perturba o discernimento. O desejo sexual que o assola não permite que este tenha uma visão clara e imperturbável sobre o tema. Digo isto porque encontramos, sempre encontrámos espalhado na sociedade, um extremismo generalizado em relação a este tema. Os ferverosos defensores do celibato, afirmando que a sexualidade é um mal do qual nos devemos livrar e os outros que acham ridícula qualquer tentativa de abstinência sexual.

Vou tentar explorar a sexualidade de um ponto de vista Daoista.

"O desejo sexual é uma expressão da abundância de Jing Qi" 

Podemos ver isso facilmente nos jovens quando têm o instinto de se tocar sem sequer saber ainda o que estão a fazer… O homem verifica também isso com a chamada erecção matinal. estas sensações ou comportamentos que vêm de "dentro para fora". Então, quando Jing Qi atinge o seu "pico" a ovulação acontece, e o homem pode libertar sémen. Quando esta energia se encontra em grande quantidade é como um copo cheio de água que facilmente transborda.

A sexualidade no homem torna-se natural e saudável e na mulher (que desgasta o jing de forma cíclica sem envolvimento sexual) todo o seu corpo se apresenta equilibrado e plenamente fértil.

"o desejo sexual é algo de natural e sinal de VITALIDADE"

Na alquimia Daoista, para prolongarmos a vida e alcançarmos a libertação, o Jing é fundamental. Através de práticas específicas, transformamos o Jing em Qi e depois em Shen. Podemos imaginar o jing o gelo, o Qi água e o Shen o vapor de água. Se não houver gelo, é impossível obter água e consequentemente o vapor da mesma… Por isso é fundamental para os Daoistas conservarem o Jing para que todo o processo alquímico possa ocorrer. É na realidade o primeiro passo! Convervar a energia! Não perder….

Sim, porque segundo a filosofia Daoista o Jing pode perder-se, e o desejo sexual pode ser perigoso pois leva o ser humano a ter relações e consequentemente perder vitalidade...

É aqui que começam a surgir correntes diferentes. De certo que muitos já leram sobre sexualidade Daoista (Sou Nü jing é um dos clássicos mais conhecidos), pois é um tema muito estudado e até profícuo para todos nós…

Mas até que ponto a sexualidade é importante no caminho? 


  • Uma corrente diz que podemos atingir a libertação através da sexualidade. Existem inclusivamente seitas Daoistas que fazem uso do formas semelhantes à da prostituição para "adquirir" jing do parceiro e assim poderem desenvolver o seu estado energético. Os homens Dragão de Jade acreditam que através do voyeurismo estimulam o Jing para que depois o possam circular e transformar. A mulher, Tigresa Branca extrai o sémen (Jing) dos diversos parceiros para seu benefício.
  • Outra corrente assemelha-se mais às religiões ocidentais monoteístas em que o celibato é tomado como uma forma importante do caminho. Dá-se muita importância à "poupança" do Jing das mais diversas formas (pois este não se perde unicamente através das relações sexuais, parto ou ovulação), para usá-lo no processo alquímico.

Estas são duas vias que parecem até contraditórias e torna-se um pouco polémico por isso. Mas talvez nem seja...

Há uns anos estudei a sexualidade Daoista e descobri coisas fantásticas. É por isso para mim claro que o trabalho sobre a sexualidade tem os seus reflexos que nos podem inclusive transcender para outros níveis energéticos. Não é coincidência que a sexualidade está também ligada a muitas religiões e cultos… Mas hoje penso de forma ligeiramente diferente, pois a sexualidade mais do que se tratar de gastar, manter ou ganhar Jing é também um momento em que interferimos com o Shen. Se a mente estiver muito fixada na sexualidade (como aqueles que usam a sexualidade para o seu desenvolvimento energético) o Shen fica doente, a moral distorcida e o caminho deixa de ser visível e possível de alcançar. 

Estas nuances, à medida que se caminha, assumem uma importância enorme!

Uma das coisas que aprendi na sexualidade Daoista foi a conservar o Jing, no fundo esse é o primeiro propósito. Podemos fazê-lo através da abstinência ou, mantendo relações mas de forma particular para que o Jing não se perca.

Muitos consideram que isso é apenas (no caso do homem) o chamado coito interrompido, ou até mesmo a separação entre o orgasmo e a ejaculação. A mim parece-me muito mais do que isso. Embora a capacidade de deixar de ejacular mantendo o orgasmo permite ao homem tornar-se capaz de atingir vários orgasmos sem com isto perder sémen, isto diz apenas respeito ao prazer. Não digo que não possa interessar a muitos, mas para aquele que pratica a via do Dao, o caminho não nos leva à busca do prazer sexual, pois busca outra coisa bem diferente. O importante é ele conseguir, segundo a sexualidade Daoista, fazer subir o Jing para o Dantian superior. Esta técnica como podem entender facilmente não se refere a uma subida literal do sémen para o cérebro… Mas sim ao Jing que, na realidade, não é apenas o sémen!. E é aqui que reside o grande "problema" Reduzir o Jing ao sémen ou à ovulação. O jing é muito mais do que isso, encontra-se noutros locais e pode ser trabalhado e afectado de diferentes formas. Mas voltando ao tema, é suposto pôr o Jing a circular pelo Du mai para que possa ascender até ao cérebro. Estas são técnicas violentas e perigosas que podem trazer resultados desastrosos, ou apenas a ilusão de que alguém está a usar o prazer para se iluminar...

Se na alquimia Daoista procuramos o desapego total, se procuramos viver de acordo com a brisa soprada pelo Dao e por isso eliminar a nossa vontade criada para voltarmos ao movimento primordial não podemos seguir a exploração sexual nem nos devemos deixar obcecar pelo celibato. Pois em qualquer uma delas o distúrbio causado pode causar danos irreparáveis...

É muito importante relembrar que buscamos a quietude suprema e a sexualidade facilmente nos leva ao turbilhão emocional. Não é por isso proibido e é aí, que nos vale a sexualidade Daoista. Podemos viver naturalmente a nossa sexualidade de forma ainda mais sensitiva (ao contrário de prazerosa) num plano de quietude. 

Diz-se que a pessoa não deve transpirar, o coração deve permanecer tranquilo e ao terminarmos a relação amorosa devemos-nos encontrar com mais vitalidade.

Se o fizermos então não nos devemos preocupar com mais nada. Devemos continuar o nosso trabalho alquímico e certamente encontraremos frutos ao longo do nosso caminho. À medida que o nosso trabalho for ocorrendo, naturalmente o desejo se irá dissipar (não porque o Jing está esgotado para porque ele circula para o Dantian superior ao invés de ficar "preso" no Dantian inferior). Nesse momento podemos dizer que nos libertámos do nosso "instinto animal e biológico" e que somos sexualmente livres.

Na sexualidade Daoista, a relação é subtil, os sentidos despertam lentamente, os orgasmos ocorrem de forma menos "intensa" mas de forma mais prolongada e profunda, tornando a experiência sexual única. Durante a relação não surgem pensamentos fortes e agressivos, não há agitação mental ao invés é vivida um pura tranquilidade com o parceiro(a), em que são partilhadas sensações. É um acto de contemplação do outro mas também de nós.

A sexualidade deve então ser vivida com naturalidade e ao mesmo tempo analisada. Estaremos a vivê-la de forma tranquila? Será ela fonte de ansiedade, esgotamento ou obcessão? Estará a sexualidade a moldar a minha visão das coisas?

O que é o desejo sexual?

Tenho entendido nos últimos tempos que existem pelo menos duas formas de desejo sexual à qual devemos estar atentos. Porque gosto de por as coisas nestes termos vamos dizer que um desejo é interno e outro externo, yin/yang. Um desejo deve-se à abundância de Jing outro deve-se a condicionantes externas, ao Shen.

Aqui creio que reside uma grande rasteira, talvez o maior perigo de perda de Jing. Será que o impulso sexual que estamos a sentir é verdadeiro ou induzido? Será que ele vem da nossa vitalidade ou dos nossos pensamentos ou provocação de outros? Isto confere toda a diferença.

Quando a energia é exuberante esta manifesta-se… Há vários exemplos deste acontecimento. 

Por exemplo quando temos uma fome extrema em oposição àquele snack que nos cativou ou aquela fatia de bolo que quero tanto... Enquanto no primeiro caso há tanto necessidade do corpo em obter energia como o fogo do estômago se encontra activo (fornecido pelo Chong mai), no segundo caso o corpo não sente necessidade e muitas vezes o fogo do estômago encontra-se até debilitado (sempre que comemos o Qi do estômago desgasta-se e este precisa de tempo para se repor). Então se comermos com fome estamos a respeitar o nosso corpo na integra, se comermos sem fome estamos a atacá-lo e degradá-lo. O mesmo se passa com a sexualidade.

É então fundamental aprendermos a discriminar o desejo interno do externo. O desejo que se desenvolve na pura vitalidade do desejo influenciado por aspectos culturais, imagens mentais e outras influencias ainda mais complexas... Se aprendermos a identificar as diferenças estamos mais perto de continuar a nossa caminhada livre de problemas. Podemos se calhar ver de forma diferente o que foi falado acima. Verificamos com facilidade a subjectividade de muitas coisas. Não basta dizer Sim! celibato ou Não! vamos explorar a sexualidade. A vida está recheada de caminhos tortuosos e é fundamental sermos conscientes, humildes, destemidos e corajosos para que possamos ultrapassar os diversos obstáculos que muitas vezes, só podem ser ultrapassados por nós pois são realidades únicas e que ninguém conhece. Este é outro perigo, tendemos a criar empatia com outras pessoas que vivem "a mesma coisa", mas na realidade são coisas parecidas. Ora, "coisa parecida" é   de "mesma coisa".

Espero, sinceramente que esta publicação tenha contribuído de algum modo que não tenha sido demasiado enfadonha ;)