quarta-feira, 23 de maio de 2018

Quando o medo se mascara e a preocupação ocupa lugar

A preocupação

Muitos dirão que a preocupação é fruto de um ser consciente e responsável. Que só um louco não se preocupa, pois o que seria da humanidade se o ser humano não se preocupasse com os outros…

Dirão também que é fundamental alguém se preocupar com o seu filho, os seus pais o seu companheiro, enfim todos aqueles de quem gostamos. A preocupação parece então estar ligada de forma estranha ao amor, isto porque as pessoas se preocupam com aqueles que gostam…

Alargando o tema da preocupação

 Mas a preocupação também surge no trabalho e, infelizmente, muitos são aqueles que não adoram o que fazer. Alguns até detestam… Então a preocupação não é sinónimo de amor, também pode decorrer noutras situações como o trabalho.

Podemos também ficar preocupados com algo que fizemos. Talvez não tivéssemos feito bem, talvez o que fizemos teve repercussões em alguém que nós não queríamos. Talvez o que fizemos no passado nos está a condicionar o presente e isso preocupa-nos…

E como a preocupação não conhece limite, podemos até ficar preocupados com o futuro, pois dele ninguém faz ideia o que vem… Mas às vezes, até por "sabermos" o que aí vem, ficamos preocupados

Antes de fazer uma reflexão sobre a preocupação, seria interessante estudar a palavra em si:

Preocupação: 
  • Estado de um espírito ocupado por uma ideia fixa a ponto de não prestar atenção a mais nada
  • Inquietação
  • Desassossego
  • Ocupação prévia
  • O primeiro a ocupar
  • Antecipar
De forma geral a preocupação assume um peso incomodativo no nosso espírito, pois preenche a nossa mente com algo impossibilitando vivenciar o momento. 

Ao impedir vivenciar o momento, a preocupação leva-nos para um estado de espírito em que vivenciamos a ilusão, mas porquê? Seja por antecipar um real acontecimento, ou por manter um pensamento sobre algo que corre por corrigir na nossa vida, essa ocupação mental nada traz de resolução.

Podemos contudo argumentar, que pelo pensamento permanente num tema, conseguimos muitas vezes resolver diversas situações nas nossas vidas, é certo. Isso acontece com a esmagadora maioria das pessoas. Quando há um "problema" ficamos a "meditar" (preocupados) nele e, algumas vezes encontramos a "solução". Para quem acha que esta é a via, este  texto não visa explorar este ponto que no meu entender tem a sua própria linha de raciocínio. 

O que posso dizer é que nós podemos resolver os desafios que a vida nos propõe das mais diversas formas. Umas serão melhores que outras, como em tudo na vida. No meu entender, a melhor forma de lidar com estes desafios é fazê-lo com a consciência no presente, em paz consigo mesmo aproveitando cada instante desta vida terrena que passa num ápice. Se a cada desafio que formos resolver, e são muitos os que aparecem na vida, perdermos a noção do momento; então estaremos a desperdiçar uma grande parte da vida. 

Usando a preocupação conseguimos vivenciar o presente de forma plena? Estou certo que não.

Então podemos lidar com o desafio em tempo real, não perdendo tempo em antecipa-lo, até porque muitas das vezes ele acaba por não se manifestar. Podemos também manter a serenidade e atenção máxima, fazendo uso de todas as nossas capacidades, para poder resolver o que nos surge. Geralmente a resolução é mais rápida, pacífica e menos desgastante, já para não falar do seu rácio de assertividade

A "conversa", trouxe-me até aqui, mas não era bem este o caminho que havia escolhido inicialmente. Surgiu-me que a preocupação pode ser apenas uma manifestação de algo mais profundo do nosso ser e não apenas uma característica nossa. 
A preocupação não deixa de ser um pensamento fixo sobre algo, uma pequena obcessão. 

O que nos leva a viver neste estado? Pois ninguém se sente genuinamente bem neste estado. Muitas pessoas se queixar que se preocupam com o tudo e com o nada mas não conseguem deixar de o fazer… Porquê? o que as impede?

O medo

Se confiarmos em nós e nas nossas capacidades, regra geral não seremos atacados pela preocupação
Se sentirmos uma confiança inabalável nos nossos amigos e familiares, estes não serão fonte do nosso medo
Se executarmos o nosso trabalho com dedicação e disciplina, o trabalho não será fonte de inquietação
Estando conscientes das nossas limitações e capacidades, não ficaremos desassossegados por acontecimentos passados nem inquietos em relação à indefinição do futuro

Creio, que para a preocupação nos abandonar, temos obrigatoriamente de observar o nosso medo, temos de o mandar para fora do barco, pois só assim a preocupação (e outras qualidades mentais) poderão extinguir-se. 

Mas para tal é importante dar o salto no abismo, e esse é difícil de fazer… Isto significa, temos de nos entregar ao mundo da indefinição, pois no que nos é exterior não conhecemos nada. A única realidade Somos Nós. é aí que deve residir a confiança, a entrega, a fé. 

Se vivermos sempre em função do que nos é exterior é como estarmos sempre a correr atrás de um cavalo, nunca o apanhamos… Mas se decidirmos viver em função do que somos, das nossas sensações, não apenas viveremos serenos e tranquilos, como muito provavelmente realizados
O medo

terça-feira, 24 de abril de 2018

A história do copo cheio e vazio, mas há mais... E a palhinha?

Já todos ouvimos falar na história do copo meio cheio, vazio, etc...

É uma imagem realmente interessante para tentarmos "materializar" a forma como a nossa mente processa o que nos rodeia, mas sobretudo o que nos permeia...

Se quisermos simplesmente assumir que a matéria que usamos para encher o "copo" é o conhecimento, as experiências, as sensações todos tenderemos a pensar... "quero ter o copo cheio".

Poucos serão aqueles que não querem saber mais, fazer mais, serem mais capazes, etc...

Mas aqui quando falamos de copo cheio, assumimos desde logo um limite, pois a partir do momento em que o copo está cheio, tudo o que vier a mais, transborda. Quer isto dizer que tudo o que vem a mais não é aproveitado, processado sequer.


E então o copo vazio? Quer dizer que não há nada no copo, que podemos enchê-lo à vontade, com tudo o que quisermos. No entanto não deixa de ser um copo, mesmo que vazio, um dia irá encher. Faz-me lembrar as crianças que tudo absorvem pois têm o "copo vazio".

Estas alusões servem muitas vezes para transmitir a ideia de limite em que as pessoas se encontram. O copo cheio pode simbolizar uma pessoa em ansiedade, do limite físico, mental e emocional... Já o copo vazio simboliza a disponibilidade, a tranquilidade a abertura, etc.

Mas...

Na realidade o copo nunca está vazio, a diferença é que, quando o enchemos de água vemos, quando retiramos a água ou outra matéria qualquer, esse espaço é ocupado pelo ar e todos as partículas, microorganismos que ocupam "esse espaço".

Por isso na realidade quando nos queremos esvaziar, não o estamos a fazer. Estamos a substituir o nosso estado, alterando-o por outro, melhor. E isso que na realidade acontece.

Sendo melhor, podemos ainda dar mais um passo. Tentar fazer como a palhinha... A palhinha não tem topo nem fim, nela tudo passa e nada fica. Ela não retém nada e por isso nunca enche. Por vezes está cheia, outras vazia, na realidade o seu estado reflete o presente. E é assim que devemos tentar ser, como uma palhinha. Lidarmos com o que nos rodeia sem nos fixarmos nas experiências, obstáculos e desafios. Simplesmente vivenciar, e agir de acordo com as situações.

Vivendo sempre, e apenas, o presente! Nada do que passou eu posso alterar, nada do que ainda não aconteceu me pode afectar. Apenas o presente interage comigo e é nele que devo viver.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Sobre o Dan Tian

O que é o Dan tian?
Para que serve?
Como o utilizamos?

Vamos começar por entender o significado através do caractér  - 丹田

Tian quer dizer campo, terreno, espaço. É muito empregue na agricultura (nongtian - campo cultivado; miantian - campo de algodão; feitian - terreno fértil...).
É curioso este termo ser empregue na prática alquímica, ou nem tanto. Ora vejamos; em primeiro lugar são vastos os casos na cultura chinesa em que se estabelecem analogias entre a natureza, o cosmos e o Homem. Isto porque se acredita que Homem e natureza obedecem às mesmas leis.

  • Os trigramas são um reflexo claro deste pensamento. Nos trigramas o yao inferior está relacionado com a terra, o médio com o homem e o superior com o céu. Os trigramas explicam a relação entre estes três níveis, mostrando também que o que há em cima também há em baixo. 
  • O símbolo do Taiji é outro dos casos mostrando como a dualidade está na base de toda a vida. Então há uma base energética comum em todas as manifestações diferenciadas. O mesmo princípio, a mesma lei

É mais fácil entender esta relação de "terreno"

Explorando então um pouco mais o caractér podemos supor que o terreno que temos pode ser cultivado e nele pode gerar o que semearmos. Sejamos nós suficientemente cuidadosos e trabalhadores para desenvolver a nossa colheita. Sabemos também que para que um terreno dê frutos, é também importante que os factores naturais sejam propícios, que chova na altura certa, que não faça demasiado calor, etc. Podemos então estabelecer que no "nosso" terreno há também factores externos que podem promover ou contrariar o desenvolvimento da nossa produção. Neste caso a forma como vivemos, as pessoas com quem lidamos, os estilos de vida que levamos.

Dantian - É muitas vezes traduzido, sobretudo nas tradições alquímicas como o campo do cinábrio ou a região do umbigo. Na prática alquímica, quando referido o Dantian, geralmente falamos então desta região entre o umbigo e a sínfise púbica. É na realidade na baixo ventre. Existem muitas figuras clássicas nos textos representando um ser nesta região como se o Homem gerasse um novo ser. Para concluir a localização, é fácil entender o Dantian como a região onde o feto se desenvolve na mulher. É na realidade toda essa região que tem um potencial energético enorme e, se for devidamente trabalhado pode gerar um novo ser. Pela via biológica gera uma nova vida, através da mulher e pela via energética gera o potencial máximo do ser espiritual.




Para que serve?

Já foram dadas algumas luzes no parágrafo anterior. O Dantian é um centro energético (na realidade existem 3! Shang Dantian, Zhong Dantian e Xia Dantian comummente chamado de Dantian). 
Este centro é a origem de toda a energia. É onde se situam os Rins que armazenam o Yang Qi e Yin Qi essencial, onde se armazena Jing Qi, a poderosa energia sexual que dá origem à forma e que se pode transformar em energias mais subtis e Yuan Qi, a energia ancestral.

É também a partir deste centro que se formam todos os canais, Du mai e Ren mai os famosos canais trabalhados na órbita microcósmica e os que veiculam as energias originais Yang e Yin respectivamente, bem como os restantes canais curiosos e, mais tarde, os canais designados de principais. Podemos então entender a importância desta região. É onde tudo nasce!

A importância de estimularmos o Xia Dantian ou o Dantian, é a de mobilizarmos a energia essencial e original por todos os canais, por todo o corpo. O objectivo é o de refinarmos esta bateria, de a activarmos, para que todo o corpo possa beneficiar da energia lá acumulada. 
O Dantian é O grande armazém de energia do corpo e é por isso crucial activá-lo se queremos que a nossa prática alquímica tenha lugar

Como o utilizamos?


Começamos pela respiração. Grosso modo existem três tipos de respiração:
  1. Torácica
  2. Abdominal
  3. Completa

A primeira é a geralmente utilizada no dia a dia por 99,9% da população. É mais curta e de ritmo mais rápido, eleva a energia para o plexo cardíaco (zhong Dantian). Tem vários efeitos; activa o nosso lado emocional, sobe o centro de gravidade e torna-nos mais impulsivos, reactivos.

A respiração abdominal é aquela que procuramos desenvolver nas práticas alquímicas. Nesta respiração distendemos o diafragma para que o ar possa preencher a região inferior da cavidade pulmonar. Uma das consequências físicas neste processo é a distensão da barriga, períneo e região lombar, na respiração. Na respiração abdominal temos ainda muitas variações, há no entanto duas mais conhecidas:
  • Respiração abdominal budista ou normal - Nesta respiração, quando inspiramos o diafragma distende, obrigando também à distensão do baixo ventre, períneo e região lombar. Quando expiramos o diafragma retorna à sua posição de inicial, libertando o Dantian e tendo como consequência o retorno do baixo ventre, períneo e região lombar às suas posições originais.
  • Respiração abdominal daoista ou invertida - Nesta respiração, quando inspiramos o diafragma distende, mas em vez de deixarmos livremente as restantes estruturas distenderem provocamos o movimento oposto, ou seja, retraímos o baixo ventre, períneo e região lombar. Na expiração tudo é libertado. 
Enquanto que a respiração budista é mais apaziguadora e reguladora, a respiração daoista activa de forma intensa a energia existente no Dantian. A primeira é a mais segura e aconselhável para aqueles que estão a iniciar a prática.

A respiração completa é aquela que preenche toda a cavidade respiratória, desde a cavidade inferior como superior dos pulmões, fazendo uso de toda a capacidade pulmonar. É uma excelente forma de energizar todo o corpo, bem como de serenar a circulação energética.

Após praticar a respiração é fundamental colocar a mente em todo este processo. Fazer uso da técnica respiratória já é muito bom, mas não é suficiente. Para que o Dantian seja realmente activado é necessário colocar a mente em todo o processo. E aqui se inicia uma caminhada complexa cheia de pequenas rasteiras. O entendimento deste processo pode levar anos, até mesmo décadas a acontecer. É no entanto simples! depois de o descobrir...

Colocar a mente na respiração, não é aplicar a qualidade da concentração na área que pretendemos (dantian), não é também aplicar a vontade de sentir dantian. Colocar a mente na respiração, ou melhor, no Dantian (em toda a sua tridimensionalidade) é observar, escutar, sentir tudo o que acontece nesta região e sem qualquer esforço mental ou físico, em puro estado de tranquilidade mental e relaxamento físico. Se o conseguirmos fazer, mantendo o foco no Dantian, vamos começar a sentir um novo mundo a ser activado. Como se tivéssemos um outro corpo escondido dentro de nós, que antes estava adormecido e agora acordou...

A mente e como trabalhar com ela na prática do Qi Gong, ou nas práticas de Nei Gong é fundamental!!! É, em meu entender, a chave que nos permite abrir as portas para o mundo novo, o nosso verdadeiro crescimento.


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Shanggu Tianzhen lun, o primeiro capítulo do Suwen





"Quando alguém está completamente livre de desejos, ambições e pensamentos que distraiam, indiferente à fama e ao lucro, a verdadeira energia daí irá desertar. Quando alguém concentra internamente o seu espírito e conserva uma mente em seu estado perfeito, como pode ocorrer qualquer doença?"







Este excerto fantástico resume o pensamento Daoista. Num capítulo bem mais vasto, estas duas frases conseguem sintetizar a visão holística do daoismo bem como a essência para atingirmos o homem superior.

Aqui o conceito de saúde não é apenas físico. É bem mais do que isso. A saúde é não só uma plenitude física, como também a liberdade das emoções que nos condicionam bem como dos pensamentos obsessivos que nos levam ao desvio.

"Quando alguém está completamente livre de desejos, ambições e pensamentos que distraiam, indiferente à fama e ao lucro, a verdadeira energia daí irá desertar..."

Uma mente livre de ocupações, não está dispersa. Uma mente livre de desejos e ambições não se esvai. Uma mente indirente aos estímulos exteriores concentra-se no interior e faz despertar o espírito. Faz despertar Zheng Qi, a energia autêntica ou verdadeira. É a representação da energia no seu estado puro e perfeito.

"Quando alguém concentra internamente o seu espírito..." 

Quando nos focamos em nós, quando a mente não se dispersa com o mundo exterior mas apenas está focada no presente e naquilo que somos...

"...e conserva uma mente em seu estado perfeito..."

Quando a mente está concentrada em apenas um pensamento e esse pensamento é a existência plena...

"...como pode ocorrer qualquer doença?"

Se respeitarmos todos estes princípios teremos uma saúde muito forte. Principalmente porque estaremos conscientes do que nos rodeia, tranquilos quando face às provações e resistentes às adversidades da natureza


domingo, 3 de dezembro de 2017

Podemos sair, mas devemos sempre regressar


Numa vida recheada de estímulos, desafios e de objectivos que nos consomem, algo não deve nunca desaparecer do nosso horizonte... a nossa casa.

Somos diariamente desafiados a sair, a explorar. Torna-se portanto um hábito, torna-se a nossa vida. Rápido nos habituamos a viver fora de casa e aí nos sentimos bem. Sentimo-nos vivos!

Queremos continuar nessa viagem ao desconhecido, queremos viajar, conhecer experienciar...

Mas durante essa caminhada, vivência a nossa casa afasta-se de nós. A nossa casa é a nossa raíz, a nossa origem, o que na realidade somos! E um dia quando já não quisermos conhecer mais, podemos já não ver a casa. Podemos já não conhecer o caminho de volta e pior; podemos-nos mesmo esquecer que algum dia tivemos casa!!!

O processo de esclarecimento é individual, ninguém poderá dizer qual o melhor caminho para alguém, pois na realidade ninguém o conhece. Apenas sabemos, que com serenidade podemos escutar o eco do misterioso que nos conduz ao nosso destino. Esse sim é o caminho correcto, caminho esse que apenas pode ser descoberto por nós.

O que pretendo, é alertar para a dispersão destrutiva. A dispersão é um movimento natural da vida. Os fluxos de movimento aparentemente opostos, são aqueles que geram, criam.
Portanto para que o completo se manifeste é necessária a concentração, mas também a dispersão. Dois movimentos interdependentes! Logo não podemos vivenciar apenas uma das duas coisas, precisamos de ambas para nos completar.

Mas o risco, quer num quer noutro, é o do esquecimento. Especialmente na dispersão pois é aquela que nos tenta diariamente. O esquecimento acontece, pois no estímulo exterior constante faz esquecer aquilo que raramente vivenciamos...

Um dia mais tarde, pode ser tarde demais... Um vazio surge na natureza do incompleto, o ser fica doente e a tristeza surge...

Devemos SEMPRE manter cuidado o caminho da nossa casa, podemos sair mas temos SEMPRE de regressar. Yin e yang devem sempre manifestar-se, apenas assim se nutrem e mantêm. 

Ao sair Vemos, mas é em casa que que Vivemos!

A cada inspiração o espírito pede para entrar, enquanto que em toda a expiração ele se liberta... Em TODO o pensamento o espirito dispersa e enfraquece, mas sempre que há quietude no coração ele rapidamente regressa. 

É fundamental entender que o esclarecimento não ocorre na dispersão como também não surge na concentração. O esclarecimento brota de um coração sereno que, atento e sem ambição, aguarda pelo tempo certo.

O ego tenta procurar fora o que apenas existe dentro. Mas como ele se sustenta nos sentidos, apenas percebe o que acontece no exterior, o que é ilusório. Então nunca poderemos obter o esclarecimento se nos deixarmos levar por ele,  apenas nos conduz ao engano e à desilusão.

É por isso necessário serenar o espirito pois é aí que podemos despertar o Sentido interno da percepção. Esta é superior à mente e não obedece ao ego.

A percepção dá-nos o estado real no nosso espírito.

A fé ajuda-nos a serenar o coração e a continuar este caminho interno alquímico.


domingo, 24 de setembro de 2017

Qi 气, refletindo sobre o caracter...



Qi é geralmente traduzido como "energia", um conceito que, no ocidente, não representa exactamente a real ideia de Qi. 


Durante os mais de 4000 anos de história, os caracteres foram evoluindo, geralmente tendo como ponto de partida os pictogramas

este é dos primeiros caracteres conhecidos sobre Qi. Estes 3 traços que se mantêm ainda hoje relevam grande parte da importância do significado de Qi, vapor

Na dinastia Zhou (1046-256 a.c) era outro o caracter de Qi
neste caracter é evidente a marca presente do caracter moderno com o acrécimo de outro, Huo - fogo. Podemos denotar a ênfase no movimento e no calor

Mais tarde, na dinastia Han (206 a.c. - 220 b.c) outro caracter emergiu. Um completamente diferente e mais adoptado pelos Daoistas que têm um conceito mais interno e alquímico de Qi.

este caracter é muito interessante para os daoistas. É composto por duas partes; Wu - não existência e huo - fogo que neste caso está relacionado à emoção. 

Este caracter diz que Qi é a não emoção ou a ausência de emoção. Para compreender um pouco é necessário entender um pouco de daoismo. No daoismo procuramos a integridade com a natureza, a harmonia perfeita, existem diversas correntes e várias formas de a atingir. Mas em geral, todas as correntes praticam a via da quietude. A quietude assenta na tranquilidade suprema através da sublimação das emoções. Os daoistas acreditam que é neste estado de quietude que o dao pode habitar em nós e por isso a imortalidade deixa de ser um sonho ou uma utopia. A saúde atinge níveis elevados e a longevidade aumenta. A energia abunda e gera-se espontâneamente. A quietude é como o vazio, o vácuo que suga a energia ancestral. É seguramente um caracter que suscitará a muitos praticantes vários anos de meditação...

este caracter surge mais tarde, mantendo os 3 traços do símbolo correspondente ao vapor, assemelha-se também a um trigrama, o trigrama Li (fogo) que pertence ao Bagua


Na dinastia Song (960-1127 d.c) eram usados outros dois caracteres, já mais semelhantes ao actualmente utilizado

                                                    
estes caracteres são iguais embora escritos de forma ligeiramente diferente. podem ser divididos em duas partes; a superior - vapor e a interna - arroz.

Aqui há algo novo. Surge a valorização da nutrição no conceito de Qi. Alguns associam o vapor ao produzido no cozimento do arroz, outros valorizam o movimento característico do vapor e do seu calor. No entanto há que reter o aspecto nutritivo que Qi tem, simbolizado pelo arroz, alimento de base na China.

Actualmente o caracter de Qi tem por por base o simbolo que foi, de resto, acompanhando quase sempre a evolução do caracter.


Este caracter pode então traduzir-se como vapor, ar, gás ou até mesmo irritação. Significado amplo que pode ainda aumentar dependendo do seu contexto. 

Espero poder ter contribuido para o esclarecimento no entendimento dos caracteres e deste em particular. 

Um caracter nunca é uma ideia concreta, uma imagem particular ou um palavra! Um caracter induz sempre à reflexão sem que nunca tenhamos a arrogância de ignorar o seu contexto histórico e cultural


este post tem por base a consulta do site http://www.buqiinstitute.com/qi-chi-ki-part-1/


Trabalhando o Qi

Muito é aquilo que podemos dizer sobre o conceito de Qi, energia ou sopro (como muitos traduzem).
Não é minha intenção tentar descrever este conceito, até porque já o fiz numa publicação anterior ( artigo sobre Qi )

Quero antes falar do que tem representado para mim, do ponto de vista prático, real...

Há largos meses que tenho "brincado" como o Qi, principalmente a nível superficial. Tenho experienciado a sua capacidade na cura e no rápido estabelecimento de bem-estar. É fantástico como em poucos segundos conseguimos corrigir aquilo que por vezes está desequilibrado há meses...

Podia inumerar diversos casos em que verifiquei isso, mas também não essa a minha intenção. Quero apenas partilhar a minha experiência e dizer, SE EU CONSIGO TODOS CONSEGUIMOS!!!

Na realidade é uma capacidade intrínseca. Pois todos possuímos Qi, apenas não aprendemos a usufruir das suas capacidades. E ainda por cima não há esforço. Toda a experiência que tenho tido assenta no relaxamento profundo aliado a atenção ou consciência.

Recentemente tenho tentado aprofundar esse trabalho em áreas do corpo onde me é mais difícil obter consciência. Pois na realidade o que estou a fazer é guiar o Qi para as áreas onde acredito que ele é mais necessário no momento.

E com este trabalho elementar já tenho conseguido muita coisa. Acredito cada vez mais que aquilo que nos parece ser inalcançável no processo alquímico é na realidade tão simples que nos escapa do olhar...

O que hoje faço, poderia fazê-lo desde sempre... Apenas foi preciso ganhar consciência sobre isso, nada mais.

Acredito também que o desenvolvimento energético assenta em bases semelhantes. Trabalho esse que ainda não comecei de forma profunda.

Queria apenas, com esta publicação, partilhar a importância da mente e da respiração no processo energético.

A respiração comanda o Qi
A mente direciona-o

Estes têm sido os princípios fundamentais nestas experiências...